segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

ENCONTRO DA ECOLOGIA PROFUNDA COM O TERCEIRO MUNDO



Há um movimento em curso nos Estados Unidos que os ambientalistas chamam Ecologia Profunda. Em resumo, o seu princípio básico é que todos as coisas vivas têm direito a existir – que os seres humanos não podem conduzir outras criaturas à extinção, ou comportar-se como Deus, decidindo quais as espécies que nos servem, e devem portanto ser autorizadas a viver. A Ecologia Profunda rejeita o ponto de vista antropocêntrico de que a humanidade é o fulcro do que tem valor e de que os outros seres o têm apenas em função do modo como nos servem. Diz, ao contrário, que todos os seres têm valor inerente – animais, plantas, bactérias, vírus – e que os animais não são mais importantes que as plantas e os mamíferos não têm mais valor que os insectos. É semelhante a muitas religiões orientais, ao sustentar que tudo o que é vivo é sagrado. Como conservacionista, sou atraído pelo espírito da filosofia da Ecologia Profunda. Tal como os budistas, os taoístas e os defensores do movimento “Terra Primeiro!”, também acredito que todos os seres vivos são sagrados. Quando actividades humanas conduzem uma das nossas espécies companheiras à extinção, considero que atraiçoámos a nossa obrigação de proteger toda a vida no único planeta que temos.
Onde entro em conflito com a filosofia da Ecologia Profunda é em lugares como a América Central rural ou na fronteira agrícola da Amazónia Equatorial – lugares onde os próprios seres humanos vivem no limite da sobrevivência. Nunca tentei dizer a um agricultor latino-americano que não tem o direito de queimar a floresta para cultivar a terra porque as árvores e a vida selvagem têm tanto valor inerente como ele e os seus filhos. Como antropologista e pai, não estou preparado para fazer tal trabalho. Podem chamar a isto o dilema da Ecologia Profunda face ao mundo em desenvolvimento.
O dilema é de certo modo mitigado pelo conhecimento de que o agricultor no mundo em desenvolvimento provavelmente aprecia o valor da floresta e da vida selvagem muito mais que nós, na sociedade dos fornos de microondas, aviões, e dinheiro de plástico. O agricultor do Terceiro Mundo reconhece a sua dependência da diversidade biológica porque tal dependência é muitíssimo visível. Sabe que a vida dele depende dos organismos vivos que o rodeiam. Da diversidade biológica que forma o seu ambiente natural, tira a fruta; animais selvagens como fonte de proteínas; fibras para o vestuário e cordas; incenso para cerimónias religiosas; insecticidas naturais; venenos de peixes; madeira para fazer casas, mobílias e canoas; e plantas medicinais para tratar dores de dentes e mordeduras de cobra.

Há povos indígenas nalgumas partes do mundo com um apreço pela diversidade biológica que envergonham os nossos conservacionistas teóricos. [...]

Este é o início do Capítulo 8 de um livro chamado Biodiversity, cuja capa se vê ao lado. É um texto curiosíssimo, como é, aliás, todo o livro. Ao lê-lo, comprendemos melhor que a conversa da conservação da biodiversidade não é tão exagerada e negligenciável como muitas vezes pensamos.
Os interessados chegam ao texto original completo do capítulo NESTE LINK .

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