sábado, 31 de julho de 2010

PINGOS DE ÓBIDOS



O PAI DO CONDESTÁVEL E O PECADO DA CARNE

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Era um grande braço, era um grande cérebro, era um grande coração, D. fr. Álvaro; e tudo isto era espontaneamente, à lei da natureza, levado pelos impulsos da vontade, pelos assomos do orgulho fidalgo, pela violência de um temperamento carnal. Na sua longa vida, apesar dos votos proferidos antes dos dezoito anos, que foi quando o fizeram prior do Hospital, teve muitos amores, e trinta e dois filhos, machos e fêmeas. O mais velho chamava-se Pedro: Pedro Álvares (filho de Álvaro) ou Pedr’álvares, e foi quem lhe sucedeu no priorado; entre os menores estava Nuno, Nuno Álvares, ou Nun'álvares, que nasceu em 1360, dia de S. João, como o precursor também, no castelo do Bonjardim, filho duma criada da corte, por nome Iria Gonçalves do Carvalhal. Quando esta aventura pagã teve o seu desfecho com o parto de Iria do Carvalhal no mosteiro do Bonjardim, o pai e o astrólogo, D. fr. Álvaro e mestre Tomaz, apressaram-se a tirar o vaticínio do recém-nascido, e o oráculo disse que o novo bastardo seria invencível. Vinha ao mundo com o Precursor, os signos afirmavam um prodígio; o pai exultava, e a mãe sorria, amorosa e melancólica, para o fruto do seu amor sacrílego.
Não é crivel que, por grande que fosse a soltura dos costumes (e não podia ser maior) nas consciências enevoadas do tempo não acordasse vislumbre de remorso por pecados tão contra a letra expressa da lei de um Deus, de quem os mais atrevidos tremiam como varas verdes. A prova é que a amante do prior levou a penitenciar-se o melhor da sua vida, sem comer carne, nem beber vinho, durante quarenta anos, fazendo grandes esmolas e jejuns. Mas o pecado teve sempre uma teoria complicada. Sem penitência não se ganha o céu, e sem pecado não há motivo de penitência. Superior às forças humanas, fatalidade inevitável da natureza, para todo o pecado há perdão: o caso está em fazer por ele ! E pecados há, dignos de benção, desde que foram resgatados. O pecado de amor estava em tal caso, num tempo em que a força das coisas levava a reclamar tudo do vigor do braço, da energia do temperamento, da exuberância das paixões. Era a idade áurea da bastardia.
[...]
O prior, por seu lado, exultava abertamente. Não o assaltavam as dúvidas que perseguem a consciência mais subtil das mulheres. Tomava a vida como o tempo a fazia. Ele próprio, bastardo era também.
Fora seu pai o arcebispo de Braga, D. Gonçalo Pereira que além jazia na campa da Flor-da-Rosa, quem o destinara para monge cavaleiro, fazendo-o proferir os votos e alcançando-lhe o priorado do Hospital.
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Oliveira Martins in "A Vida de Nun'Álvares"
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PINGOS DE CASCAIS

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.Centro de Cascais desconhecido.
Vale da Ribeira das Vinhas, detrás do mercado.
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JOSÉ ANTÓNIO FORTEA - O EXORCISTA

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O padre espanhol José António Fortea, “famoso” exorcista, esteve em Lisboa há dias para apresentar o livro da sua lavra Summa Daemoniaca. A qualidade de exorcista deixa o cidadão de pé atrás e traz à lembrança imagens televisivas patéticas da Igreja Universal do Reino de Deus. O demónio é hoje visto pela generalidade dos crentes como imagem simbólica; não realidade que infiltra almas, qual vírus espiritual, e pode ser expulsa por práticas litúrgicas com tons de mágica, como os exorcismos.
Tive oportunidade de ouvir parte de uma entrevista com o padre Fortea na rádio e fiquei esclarecido: retórica circular, com demonstração da ideia pela própria ideia.
Segundo o padre, os demónios são seres espirituais de natureza angélica condenados eternamente por desobediência livre à lei divina. Ficamos sem saber quem tentou os anjos para se tornarem demónios, e porque não acaba Deus - todo poderoso - com os demónios. E também quantos pocessos assistidos pelos exorcistas são meros casos patológicos do foro psíquico e físico.
Para ser franco, continuo sem perceber porque o Vaticano não acaba com este folclore dos exorcismos.
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SÁBADO À NOITE

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CAPA DO DIA

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.Na reunião de Haia, com as autoridades inglesas, foi recusada a possibilidade de a investigação visar o primeiro-ministro. Equipas mistas rejeitadas.
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In Correio da Manhã online
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sexta-feira, 30 de julho de 2010

CAVACO DÁ KO AO VATE


Segundo sondagem hoje conhecida, Cavaco Silva tem 67,1% das intenções de voto. Alegre é segundo e tem 19,6%.
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Eh, eh, eh...
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Cavaco Silva não faz o meu género e não terá o meu voto. Passa bem sem ele, já percebi. Mas Alegre, Senhor, porque nos dais uma lástima assim?! Porque estou condenado a votar em branco? Porque tenho de um lado um manequim rígido da Rua dos Fanqueiros, dado a tabus e jericadas imprevistas, e do outro um vate prenhe de ética republicana com hálito a passado, voz de Adamastor, e jeitos de Rosa de Tóquio?
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HÁ SEMPRE LUGAR PARA O HUMOR

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O membro do Partido Democrático da Câmara de Representantes dos Estados Unidos Charles Rangel foi alvo de de 13 acusações de violação ética por parte da respectiva comissão. Face ao facto, fez a seguinte declaração conformada: “Há 60 anos, sobrevivi a um ataque chinês na Coreia do Norte e, em resultado disso, escrevi um livro onde disse nunca mais ter tido um dia mau desde então. Hoje, vou rever tal afirmação”.

O IMPRESSIONISMO NA FOTOGRAFIA

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A FESTA OS FOGUETES E O FIM DA PEÇA

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O processo sobre o caso do Freeport foi encerrado por pressão sobre os procuradores titulares, Vítor Magalhães e Paes Faria. Estes senhores procuradores não devem ter sido muito diligentes, o que também não interessava, e criaram as condições ideais para alguém estabelecer prazos – ou atam, ou acabam com a incomodidade.
José Sócrates fez a festa, deitou os foguetes, e até veio a público de peito aberto dizer que afinal não era o trafulha que o povo diz. Mas os senhores procuradores putativamente pouco diligentes não se calaram e disseram - e bem - não os terem deixado investigar tudo. Que até tinham alguma interrogações para colocar ao senhor Primeiro-Ministro, e ao senhor Ministro de Estado e da Presidência, mas não tiveram tempo para o fazer. Há ditos macacos e este foi um deles. Depois da festa, o balde de água fria.
Procurador Geral da República primeiro, Procuradora Geral Adjunta depois, vêm de aflição deitar alguns remendos na embarcação cheia de rombos e em naufrágio iminente: que não, que ninguém pressionou os procuradores; que ninguém pediu mais tempo; que, se surgirem novos dados das averiguação feitas no estrangeiro, logo se reabre o processo; blá, blá, blá. Se os processos não andam quando estão abertos - a autópsia assim o demonstra -, porque andarão depois de fechados??!!!... Só a brincar se diz tal coisa ao povão que somos nós todos e não é parvo.
O senhor Procurador Geral, a senhora Procuradora Geral Adjunta, o senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, os senhores desembargadores, e toda a selecta classe de juristas que administram a Justiça lusitana podem embrulhar-nos em argumentações de fino recorte literário e profundo saber jurídico, mas não podem fazer-nos passar por burros, porque não somos tal coisa. Qualquer honrado cavador que autentica o depoimento com a impressão digital por não saber ler nem escrever, não entendendo nada do que dizem tão excelsas personalidades, percebe que o estão a enrolar. Não é necessário saber porquê para saber que se está a ser enrolado.
Ninguém conhece o processo do caso Freeport, e se conhecesse nada perceberia daquela montanha de prosa bárbara, onde tudo se diz para não dizer nada; mas nós, povão, temos uma coisa muito importante: senso comum e conhecimento da vida. E, tudo visto e respigado, fica claríssimo que anda por aí muita porcaria encoberta.
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AMAZÓNIA NA RUA MARIANO PINA

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LEITE DE PORTO DE OVELHA


Lê-se no DN:
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O julgamento do processo da Casa Pia, o mais logo da história da justiça portuguesa, corre o risco de ser anulado. Em causa estão três recursos remetidos para o Tribunal da Relação de Lisboa (TRL), subscritos pelos arguidos Carlos Cruz, Manuel Abrantes e Ferreira Diniz, em que se alega serem nulos os actos praticados pelo juiz Rui Teixeira, na fase de inquérito, por violação do princípio do juiz natural. Os juízes desembargadores já admitiram que aquele principio foi, de facto, violado, mas decidiram analisar a validade ou a invalidade dos actos praticados pelo magistrado só depois de proferida a sentença. Caso os recursos sejam deferidos, tudo o que foi feito a partir de Rui Teixeira cai por terra, incluindo a instrução e o julgamento, e volta tudo à estaca zero. Os crimes prescrevem em 2018.
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Parece brincadeira, mas não é! Tudo resulta de legislação confusa, talvez intencionalmente confusa; de incontáveis alçapões na lei, talvez intencionalmente com alçapões; da aceitação passiva de manobras dilatórias dos advogados, aceitação passiva talvez intencional; e de ausência de reacção a este estado de coisas na Justiça, ausência de reacção talvez intencional.
É de todo impossível que a Justiça não tenha capacidade de resolver tais problemas, se estiver de facto interessada em resolvê-los – mas não está! Está na cara que não está!
Precisa-se, com urgência, de alguém com formação jurídica sólida, independente de quem está interessado no actual status quo - útil a uma elite minoritária e marginal - e com mão de ferro para meter esta tropa na ordem. Enquanto andarmos com tácticas de Porto de Ovelha, a Justiça não dá leite.
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ROSAS DE LISBOA

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CAPA DO DIA

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Diz o SOL:
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A decisão, tomada a 4 de Junho pelo vice-procurador-geral da República, Mário Dias Gomes, de ordenar o encerramento do inquérito ao caso Freeport até 25 de Julho comprometeu, segundo os magistrados Vítor Magalhães e Paes Faria, o apuramento cabal de todos os indícios e dúvidas em torno do licenciamento do centro comercial de Alcochete.
A ordem do vice-PGR – que terá tido em conta o facto de o segredo de justiça sobre o inquérito terminar a 27 de Julho – impediu que chegasse, em tempo útil, a resposta às cartas rogatórias enviadas para paraísos fiscais, sobre informação de várias contas bancárias.
Mas sobretudo, impossibilitou a inquirição de José Sócrates, que à data dos factos era ministro do Ambiente, e de Rui Gonçalves, seu ex-secretário de Estado.
Os magistrados do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), responsáveis por este inquérito no último ano e meio (a investigação começou em 2005 mas esteve cerca de quatro anos nas mãos da Polícia Judiciária de Setúbal sem avançar), fizeram mesmo questão de, no despacho de acusação proferido esta semana, elencar as 27 questões que pretendiam colocar ao primeiro-ministro sobre o caso. E que revelam que, para o Ministério Público (MP), Sócrates tinha muito para esclarecer.
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quinta-feira, 29 de julho de 2010

OFICIAIS DE DEZ OFÍCIOS


Há sujeitos na nossa corte, que têm lugar em três e quatro tribunais; que têm quatro, que têm seis, que têm oito, que têm dez ofícios. Este ministro universal não pergunto como vive nem quando vive. Não pergunto como acode às suas obrigações, nem quando acode a elas, só pergunto como se confessa. O mesmo sol, quando alumia um hemisfério, deixa o outro às escuras. E que haja de haver homem com dez hemisférios? E que cuide ou se cuide, que em todos pode alumiar? Nâo vos admiro a capacidade do talento, a da consciência, sim!
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Padre António Vieira

O INCONFUNDÍVEL PINCEL CHINÊS

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AL AJILLO

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Duas colónias de um camarão raro, o Triops cancriformis, foram encontradas no Reino Unido. E que interessa isso? - perguntará quem tem a pachorra de me ler. Interessa alguma coisa e passo a explicar porquê.
Os fósseis mais antigos do T. cancriformis têm mais de 200 milhões de anos. São do tempo dos primeiros dinossauros. E a avaliar pelos estudos, o crustáceo mantém-se igualzinho ao dessa época – é provavelmente, o animal mais antigo do planeta. O homem, com menos de meia dúzia de milhões, tem, no mínimo, de lhe tirar o chapéu; sim senhor!
A extraordinária resistência do camarão deve-se à característica dos ovos: quando os locais onde a espécie vive secam, ficam lá centenas ou milhares capazes de resitir muitos anos viáveis; e, encontrando condições favoráveis, renovam a espécie rapidamente, pois os camarões tornam-se maduros e reproduzem-se em muito pouco tempo.
Investigadores da Universidade de Glasgow recolheram lama em volta do local onde haviam sido encontrados camarões. Foi desidratada, re-hidratada, e colocada em aquários. Com grande surpresa, viriam a encontrar um grande camarão a nadar numa das tinas duas semanas mais tarde.
Acabámos de conhecer o decano dos animais do Planeta. Merece o nosso respeito. Nem pensar o contrário; e imaginar camarões al Ajillo, ainda menos...
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A CADELA BERTA

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A EXPIAÇÃO DOS POLÍTICOS


De acordo com crónica de Maria José Nogueira Pinto no DN, D. Carlos de Azeredo, bispo auxiliar de Lisboa, terá dito ou escrito que os políticos católicos deveriam contribuir com 20% do vencimento para o fundo de solidariedade da Igreja Católica. Fiquei a saber que tal obrigação moral representa uma forma de penalização dos políticos, porque não se aplica a outras actividades que geram proventos aos católicos.
Não me apetece defender políticos de todo; sejam católicos, muçulmanos, cientologistas, testemunhas de Jeová, agnósticos, ateus, ou o que quer que sejam. Mas porque penaliza D. Carlos os políticos? A Igreja pode tê-los em fraca conta - eu também - com necessidade de começar já a expiar culpas, ainda quando estão no exercício das ditas. Seja como for, para a Igreja o exercício do poder político, sendo necessidade e obrigação, incluindo dos seus fieis, parece constituir factor inescapável de conspurcação das almas. A tributação do salário é o cilício do Século XXI. Espera-se que não seja o regresso da mercantilização das indulgências de Leão X.
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PREGUIÇA




PENSAMENTO DO DIA

A Justiça portuguesa é uma fecunda montanha parideira de ratos. Os processos prolongam-se no tempo, desenvolvem-se e desdobram-se, avolumam-se, incham, engrossam e, chegado o fim da gestação, saem ratos, correntezas de ratos.

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João Paulo Guerra in Diário Económico

quarta-feira, 28 de julho de 2010

VENEZA

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O CAMINHO DA DISTINÇÃO SEGUNDO VIEIRA


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Nenhuma coisa tanto desejam os homens como distinguir-se e extremar-se dos outros: o melhor e mais fácil modo para um homem se distinguir é o fazer-se bom. Distinguir-se pela nobreza do sangue, aos que a não tiveram de nascimento, custa-lhes tanto que chegam muitas vezes a negar os pais; os que se querem distinguir pela sabedoria, vede quanto lhes custa de estudo; os que pela riqueza, quanto de perigos e trabalhos; só o distinguir-se pela bondade é fácil, proveitoso e breve; breve, porque se pode adquirir em um instante; fácil, porque basta um acto de contrição; proveitoso, porque só esta distinção serve nesta vida e mais na outra. As outras distinções, quando muito, distinguir-vos-ão nesta vida; a da virtude e bondade é a que só com tanta glória vos há-de distinguir dos maus no dia de Juizo.
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Padre António Vieira in “O Livro de Ouro do Padre António Vieira”

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ISTO É QUE VAI UMA CANÍCULA!...

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WINSTON CHURCHILL

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TESTE DE CARGA ESTÁTICA


O Viaduto de Alcabaza em Espanha, com 130 metros, está inserido na putativa ligação de Lisboa a Madrid por alta velocidade. Hoje foi realizado um teste de carga estático que consistiu em colocar lá 12 camiões com 40 toneladas cada.
O inefável ministro lusitano das Obras Públicas, Transportes e Comunicações comoveu-se até à lágrima com tanta diligência castelhana – 12 camiões de 40 toneladas é muita diligência! Sem se conter, declarou: “Este teste de carga é um pequeno acto, mas carregado de simbolismo, porque é com estes pequenos acontecimentos que assumimos compromissos com projectos fundamentais e sem dúvida que esta ligação ferroviária é estrutural na relação entre os dois países a todos os níveis. Quer pessoais, económicas e políticas”.
O estilo é grotesco, a analogia despropositada, e a sintaxe deplorável, mas transcrevo-a tal como li no jornal. Não sei se a lavra é do jornalista, mas deve ser, porque a do ministro foi ainda pior, seguramente – não interessa. O que interessa é ter sido realizado o teste de carga estático, verdadeiro sopro de vida no ânimo do governante, que viu seu sonho de Duarte Pacheco do Século XXI despertar, qual chama bruxuleante no fim do interminável túnel da dívida.
Com respeito à ligação entre Poceirão e Lisboa, que inclui a terceira travessia do Tejo, Mendonça adiantou que houve necessidade de repensar o modelo de financiamento do projecto devido à crise internacional. Não foi porque falte credibilidade a Portugal, ou porque o estrangeiro receie que o País do nosso berço lhe pregue o calote e só empreste com juros de usurário; não senhor! Foi, tão somente, porque há a crise internacional. A Alemanha e a China, por triste falta de cabeça na gestão das finanças, ficaram sem dinheiro para emprestar a Portugal, perdendo um bom cliente, fiel cumpridor dos seus compromissos. Por tão singela razão, a ligação Lisboa-Poceirão está um nadinha atrasada; mas não tarda, estamos a fazer testes de carga estática – não se sabe ainda onde, mas não faltam por aí lugares para testar: nem que tenha de ser na Ponte de Vila Franca.
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PINGOS DE LISBOA

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CAPA DO DIA

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. Diz assim a chamada da capa: .....
“Estar ao lado do inimigo é uma coisa que tem um nome. Pior que a deserção”. A acusação é do ex-Chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Vieira Matias, e simboliza toda a pressão que se abate sobre o passado militar de Manuel Alegre – que não foi desertor mas combateu a guerra em Argel.
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A HISTÓRIA EM "FLASHES" LITERÁRIOS


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[...] A ocupação portuguesa do Brasil data de 1525. O rei mandou Cristovão Jacques à América com o título de capitão-mor. O enviado aportou ao lugar chamado Baía de Todos os Santos, por aí ter chegado no 1.° de Novembro a primeira expedição exploradora de 1501; fundou uma feitoria na costa fronteira a Itamaracá, levantou padrões, e regressou ao reino. A este primeiro ensaio seguiram-se medidas mais decisivas. Em 1530, Martim Afonso de Sousa, que depois foi, e vergonhosamente, governador da Índia, partia para o Brasil, então constituído em governo da « América Lusitana», ou «Terras Brasílicas», e fundava a capitania de S. Vicente.
A estas duas primeiras expedições seguiu-se logo a constituição e colonização sistemática. Os judeus,os degredados, forneciam o primeiro núcleo de população. Do reino iam carregamentos de mulheres mais ou menos perdidas. O Brasil era além disso asilo, couto e homízio garantido a todos os criminosos que aí quisessem ir morar, com a excepção única dos réus de heresia, traição, sodomia e moeda-falsa. [...]
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Oliveira Martins in “O Brasil e as Colónias Portuguesas”

terça-feira, 27 de julho de 2010

GRANDE NU

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A OBSESSÃO DA SEGURANÇA


Nos Estados Unidos, depois do 11 de Setembro, a segurança tornou-se obsessão. Os números a seguir dão ideia do quadro.
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Cerca de 1.271 organizações governamentais e 1.931 companhias privadas trabalham em programas de contra-terrorismo, segurança interna e informação, em 10.000 localizações em todo o País.
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Perto de 854.000 pessoas – 1,5 vezes a população de Washington – têm credenciais para serviços ultra-secretos.
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Em Washington e subúrbios, 33 edifícios para actividades de informação estão em construção, ou foram construídos, desde Setembro de 2001. Em conjunto, ocupam área 3 vezes superior à do Pentágono e 22 vezes a dos edifícios do Capitólio – à volta de 1,5 milhões de metros quadrados.
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Muitas agências de informação e segurança fazem o mesmo trabalho, criando fenomenal redundância e desperdício. Por exemplo, 51 organizações federais e comandos militares, a operar em 15 cidades, acompanham os movimentos financeiros das redes terroristas.
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Os analistas que interpretam documentos e conversas obtidos e registadas por agentes de espionagem no estrangeiro e no País, trocam os resultados através da publicação 50.000 relatórios anuais, volume tão grande que, por rotina, muitos são ignorados.
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Em resumo, a segurança nos Estados Unidos padece do mal que aflige o cidadão actual: exceso de informação, muita da qual merece as maiores reservas – facto evidente para quem frequenta a Internet.
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SEM TÍTULO

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PROMISCUIDADE SEXUAL DOS NOSSOS ANTEPASSADOS

Ao ouvir falar da teoria de Darwin, a mulher do bispo de Worcester terá exclamado: “Descendentes de macacos? Meu Deus, esperemos que não seja verdade!” Madam ficaria muito mais chocada se ouvisse o que o geneticista David Reich, professor em Harvard, diz agora.
O homem e o chimpanzé, de acordo com os fósseis dos respectivos ossos, ter-se-ão separado há cerca de 7 milhões de anos. Mas o estudo genético realizado por Reich nesses fósseis mostra que as coisas não foram tão lineares; porque muito depois dessa época aparecem genomas correspondentes a híbridos das duas espécies. Ou seja, depois de diferenciados, continuou a verificar-se acasalamento entre antepassados do homem e do chimpanzé, com descendência! Esta é que a mulher do bispo de Worcester não esperaria.
Na realidade, os híbridos masculinos seriam estéreis, mas as fêmeas poderiam procriar com antepassados do homem, ou com antepassados do chimpanzé, e fizeram-no, tudo leva a crer pela análise dos genomas. A diferenciação definitiva só terá ocorrido há 5,4 milhões de anos. Há um período de mais de 1 milhão de anos de promiscuidade sexual inter-espécies a que nem os arianos de Hitler fugiram.
Para quem conseguir penetrar no inglês quase impenetrável da menina Torah Kachur, fica em cima o vídeo que fala da matéria.

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CHUIS OU FORMIGAS?

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.Polícia filipina equipa-se para montar o dispositivo de segurança da Câmara dos Representantes em Manila, onde decorreu o discurso do Estado da Nação e se esperava a presença de milhares de manifestantes exigindo o julgamento da anterior presidente Glória Macapagal.
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CAPA DO DIA


Vão-se os anéis e fiquem as férias, o telemóvel, o plasma, o pópó, as Lacoste, e o Rock in Rio.
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segunda-feira, 26 de julho de 2010

LITERATURA EM RELÂMPAGOS



[...] As nações são os órgãos deste grande todo, que se chama humanidade. Ora não há órgãos supérfluos, estéreis, a que não deva corresponder uma função.
Quando a sua missão expira ou a sua inutilidade é manifesta, a Providência sentenceia, encarnando na espada do conquistador. É assim que Veneza, a senhora dos mares, agoniza e desaparece, quando os modernos descobrimentos tornam mesquinha e obsoleta a actividade marítima e mercantil da república do Adriático. É assim que a aventurosa Cartago, última representante da civilização fenícia, empalidece e cai prostrada finalmente aos pés do povo vencedor, que é chamado a dilatar por mais remotas regiões a conquista e a civilização. É assim que as nações americanas caem, deixando apenas a memória dos seus nomes e o reflexo dos seus feitos. É assim que neste portentoso turbilhão, que se chama a História da humanidade, a cidade de hoje será a necrópole do dia seguinte, o monumento de hoje ministrará as pedras ao monumento de amanhã, a coluna gentílica será o pedestal da estátua de S. Pedro, e a pirâmide de Queops dará sombra ao mameluco e ao felá. [...]
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Latino Coelho in “Fernão de Magalhães”
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COIMBRA

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. Frontaria da Igreja de Santa Cruz

PORTUGAL É UM PAÍS PEQUENO


António Mendonça! Alguém sabe quem é?
Dou uma ajuda: foi, e ainda é, grande defensor de obras públicas faraónicas.
Não chega!...
Ajudo outra vez: quando José Sócratres voltou de Bruxelas com o rabo entre as pernas e as orelhas a arder por causa do défice português, tinha ele assinado esse contrato estupendo e baratíssimo da obra a ligar Poceirão a Caia em alta velocidade. Obra que vai permitir fazer os 165 Km entre as duas importantes urbes no tempo que leva a ir de Lisboa a Cascais. Estamos todos a ver Caia convertida em subúrbio de Lisboa, com a população proletária a vir de manhã para a capital no TGV e a regressar à noite a Caia, onde as casa são mais baratas e os víveres também, com a vantagem sobre Oeiras, Paço de Arcos, ou Cascais de ser fácil ir a Badajoz comprar caramelos. Um achado! Não interessa que os espanhóis não completem a ligação a Madrid: para quê, se temos garantida a venda de passes sociais para o TGV aos milhares?
Pois é exactamente esse que o leitor já identificou: o Dr. António Mendonça, também conhecido por ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, sim senhor. Falo nele porque a personalidade está novamente envolvida num processo palpitante, qual é o do pagamento nas SCUT. As tais que o governo socialista do Eng. Cravinho afirmava não poderem ser portajadas, pois essa coisa do utilizador-pagador era reacção pura, manifestação descarada de falta de solidariedade, um horror. E, com o chamado Eng. Sócrates, o horror fez-se realidade e habitou entre nós para o Dr. Mendonça gerir; e aí é que a porca torce o rabo porque o Dr. Mendonça nunca geriu nada capazmente e continua no mesmo estado.
Começariam as tais SCUT a ser pagas em Junho, ou Julho, ou uma pessegada assim, mas não começaram! Seria em Agosto, mas também não! Disseram depois os oráculos, que debalde tentam interpretar os desígnios da governação vigente, que só para 2011! Sobressalto nas hostes dos que não são solidários e acham que quem passeia de pópó nas ditas SCUT é que as deve pagar.
Mas fiquem esses tranquilos porque o Dr. Mendonça já falou. Diz o “Expresso” online: O processo de cobrança de portagens nas autoestradas que agora não têm custos para o utilizador (SCUT) vai avançar até ao final do ano, garantiu hoje o ministro das Obras Públicas, Tranportes e Comunicações. Depois disto, temos todos uma certeza – nem no final de 2012 haverá portagens naquelas vias. Palavra de dolicicéfalo.
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AGUARELA


NEM PARA URSO!


O urso está prisioneiro dentro de um Toyota Corolla e foi fotografado pelo dono do carro antes da polícia chegar.
Ben Story, de Larkspur, no Colorado, deixou o carro aberto com uma sanduíche de geleia e manteiga de amendoim no banco de trás. O urso abriu a porta e comeu-a, mas a porta fechou-se e o bicho entrou em pânico. Sem poder fugir, tanto mexeu que o carro desceu 40 metros da encosta onde estava, até embater em árvores. Tinha os quatro piscas a funcionar e a besta tocava furiosamente a buzina.
Os polícias abriram a porta de longe com uma corda, mas não puderam evitar que o simpático animal se borrasse e deixasse um “presente” no banco do veículo!
A geleia devia estar “retardada”, como dizem os lisboetas; mas uma sanduíche de geleia e manteiga de amendoim nem aos ursos lembra: mesmo coisa de americano!

PICASSO

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" Violino e Guitarra"
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CAPA DO DIA

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A concretização do projecto do Freeport de Alcochete não necessitava de subornos para autorizações e planeamento, mas os partidos políticos poderiam "colocar dificuldades artificiais no caminho". Esta opinião foi transmitida a um escritório de advogados inglês, a Decherts, por um advogado português, José Pedro Ferreirinha, que integra um dos maiores escritórios, a Vieira de Almeida. Chamado à investigação para concretizar, o advogado invocou o sigilo profissional para não o fazer.
O processo judicial do Freeport - cujo segredo de justiça termina amanhã com a decisão do Ministério Público sobre se o processo segue para julgamento com acusação ou se será arquivado - está cheio de referências indirectas a eventuais actos de corrupção que possam ter existido durante a sua aprovação. O relatório final da Judiciária à investigação, que o DN tem vindo a revelar, dá conta dessas alusões, mas não retira qualquer conclusão sólida, até porque os testemunhos não apontaram para nenhum caminho.
Por exemplo, um ex-gestor da Freeport, Jonathan Rawnsley, foi confrontado com uma anotação que fez em papel timbrado da empresa de arquitectos Capinha Lopes ( os responsáveis pelo projecto): "O sucesso está mais dependente de quanto pagarmos ao partido." O ex-gestor, ouvido pela polícia inglesa, admitiu a autoria, dizendo que terá sido feita durante uma reunião com Capinha Lopes, mas não soube explicar concretamente porque a fez.
Outro cidadão inglês ouvido na investigação foi Nicholas Lamb, arquitecto que participou na elaboração do projecto. Garantindo não ter tido um "conhecimento" de que tenham sido feitos "pagamentos específicos" à margem da lei, declarou à polícia inglesa que "havia sempre conversas de taxas para lóbis e acerca de envelopes castanhos e coisas assim". [...]
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In Diário de Notícias
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domingo, 25 de julho de 2010

VAN DER WEYDEN

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."Descida da Cruz"

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SEGUNDA VIDA


Monsenhor Caldas interrompeu a narração do desconhecido:—Dá licença? é só um instante. Levantou-se, foi ao interior da casa, chamou o preto velho que o servia, e disse-lhe em voz baixa:
—João, vai ali á estação de urbanos, fala da minha parte ao comandante, e pede-lhe que venha cá com um ou dous homens, para livrar-me de um sujeito doudo. Anda, vai depressa.
E, voltando á sala:
—Pronto, disse ele; podemos continuar.
—Como ia dizendo a Vossa Reverendissima, morri no dia vinte de Março de 1860, às cinco horas e quarenta e três minutos da manhã. Tinha então sessenta e oito anos de idade. Minha alma voou pelo espaço, até perder a terra de vista, deixando muito abaixo a Lua, as estrelas e o Sol; penetrou finalmente num espaço em que não havia mais nada, e era clareado tão sómente por uma luz difusa. Continuei a subir, e comecei a ver um pontinho mais luminoso ao longe, muito longe. O ponto cresceu, fez-se Sol. Fui por ali dentro, sem arder, porque as almas são incombustíveis. A sua pegou fogo alguma vez?
—Não, senhor.
—São incombustíveis. Fui subindo, subindo; na distância de quarenta mil léguas, ouvi uma deliciosa música, e logo que cheguei a cinco mil léguas, desceu um enxame de almas, que me levaram num palanquim feito de éter e plumas. Entrei daí a pouco no novo Sol, que é o planeta dos virtuosos da terra. Não sou poeta, monsenhor; não ouso descrever-lhe as magnificências daquela estância divina. Poeta que fosse, não poderia, usando a linguagem humana, transmitir-lhe a emoção da grandeza, do deslumbramento, da felicidade, os êxtases, as melodias, os arrojos de luz e cores, uma cousa indefinível e incompreensível. Só vendo. Lá dentro é que soube que completava mais um milheiro de almas; tal era o motivo das festas extraordinárias que me fizeram, e que duraram dous séculos, ou, pelas nossas contas, quarenta e oito horas. Afinal, concluídas as festas, convidaram-me a tornar à terra para cumprir uma vida nova; era o privilégio de cada alma que completava um milheiro. Respondi agradecendo e recusando, mas não havia recusar. Era uma lei eterna. A única liberdade que me deram foi a escolha do veiculo; podia nascer príncipe ou condutor de ónibus. Que fazer? Que faria Vossa Reverendissima no meu lugar?
—Não posso saber; depende...
—Tem razão; depende das circunstâncias. Mas imagine que as minhas eram tais que não me davam gosto a tornar cá. Fui vítima da inexperiência, monsenhor, tive uma velhice ruim, por essa razão. Então lembrou-me que sempre ouvira dizer a meu pai e outras pessoas mais velhas, quando viam algum rapaz:—«Quem me dera aquela idade, sabendo o que sei hoje!» Lembrou-me isto, e declarei que me era indifferente nascer mendigo ou potentado, com a condição de nascer experiente. Não imagina o riso universal com que me ouviram. Job, que ali preside a província dos pacientes, disse-me que um tal desejo era disparate; mas eu teimei e venci. Daí a pouco escorreguei no espaço; gastei nove mezes a atravessá-lo até cair nos braços de uma ama de leite, e chamei-me José Maria. Vossa Reverendissima é Romualdo, não? [...]
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Machado de Assis in “Histórias sem Data”
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PAMPLONA

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. Fiestas de San Isidro

TONY HAYWARD


Tony Hayward, o janota aqui ao lado - chefe executivo da BP -, depois da explosão da plataforma petrolífera no Golfo do México, declarou que o derrame de petróleo ia ser “very, very modest” e, quando apertado face à onda de poluição verificada, respondeu: compreendo-vos, mas também “I want my life back”. Face a isto, Obama disse publicamente que com ele o Senhor Hayward não teria mais emprego.

E, na realidade, parece que não vai ter. A BP, para acalmar os americanos vai mandá-lo embora, ao fim de 28 anos de serviço.
Mas o Senhor Hayward, só no ano passado, recebeu 4,56 milhões de libras (1 libra vale 1,19 euros)! A reforma está prevista para os 60 anos, e ele só tem 53. A BP vai ter de puxar pelos cordões à bolsa. Para assentar ideias, provavelmente, “tocam” 10 milhões de libras ao Senhor Hayward. Depois logo se verá melhor.

Catita, não?