terça-feira, 31 de agosto de 2010

ENTRE ASPAS

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Na narrativa dos media europeus (e portugueses), a Palestina só aparece quando um grupo de palestinianos troca tiros com o exército israelita. Esta é a Palestina dos picos mediáticos. Porém, existe outra Palestina, mais constante, mais corrente, a Palestina do dia-a-dia. Sucede que esta Palestina não aparece nos nossos media. Mas convém acompanhar a Palestina durante os 350 dias do ano em que não há notícias sobre tanques israelitas a contra-atacar.
Nessa Palestina do dia-a-dia, a Fatah e o Hamas vivem uma guerra civil larvar, e o Hamas até ataca campos da ONU. Nessa Palestina quotidiana, Salam Fayyad (Cisjordânia) e Ismail Haniyeh (Gaza) controlam a política com punho de ferro, adiando para as calendas gregas as eleições que já deviam ter acontecido. Aliás, a Autoridade Palestiniana (AP) já anulou três eleições no último ano, e, não por acaso, os mandatos legislativos e autárquicos já expiraram. Ou seja, a moderada AP está a construir outro estado autoritário no Médio Oriente. Não é totalitário como a Gaza do Hamas. É só autoritário. É uma espécie de islamismo on the rocks. Sob o patrocínio dos governos europeus (que financiam a AP), Fayyad está a construir um estado autoritário e policial, com um evidente desprezo pelo parlamento e pelos jornalistas (jornalistas independentes, que não seguem a linha oficial, são silenciados).
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Ora, deste lado do Mediterrâneo, os media não falam desta Palestina quotidiana. Deste lado do Mediterrâneo, a malta só se lembra da Palestina quando troveja em hebraico. Por que razão a Palestina não interessa nos 350 dias em que os trovões israelitas estão calados?
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Henrique Raposo in "Expresso Online"
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