quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ZÉ PÉ DE CABRA

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É fácil identificar o arrastar de um ciclo político: é quando tudo são pretextos - para uns para durar. Para outros, para desesperar. E quando todos parecem moscas dentro de uma garrafa, à procura de uma improvável saída.

Portugal vive hoje assim, no declínio de um ciclo que começou em meados da década com uma esperança intensa, que prometia então ultrapassar com sucesso uma difícil fase de sucessivas irresponsabilidades. Mas que, infelizmente, acabou por não estar à altura da maioria absoluta que conquistou.

Assim começa Manuel Maria Carrilho o artigo de opinião hoje publicado no “Diário de Notícias”, em que arrasa o consulado de Sócrates. Carrilho não é muito popular por ser pedante e porque não é cliente político do PS, assumindo às claras posições independentes como a deste artigo. Incontestavelmente é pessoa de nível intelectual para não estar ao serviço de um inculto primário e demagogo como Sócrates, ao contrário do que acontece, inexplicavelmente, com pessoas do património histórico e cultural do PS. Um partido não pode deixar-se conduzir por uma nulidade, mesma que ela ganhe eleições – isso é para outras nulidades. Tem de ter aquilo que lá deve ser chamado de ética republicana e de que o partido carece desesperadamente neste momento. Partido que foi tomado de assalto por figuras como Sócrates, Vara, Pedro Silva Pereira, Vieira da Silva, e outras personagens de drama histórico muito trágico.

Quantos pensam o mesmo que Carrilho, têm boa cabeça, e calam? Seguramente muitos! Porquê? Porque gostam de estar no poder? Não creio. Isso é para Jorge Lacão e gente do género.

Diz carrilho a dado passo: Assim se caiu facilmente na armadilha de confundir arrogância voluntarista com capacidade reformadora. Por falta de coerência entre o diagnóstico e a acção e por falta de políticas que fizessem dessa coerência a alavanca de que o País precisa. E ainda por falta de conhecimento e excesso de leviandade. Por falta de participação e excesso de autoritarismo. Por falta de trabalho e excesso de facilitismo. Por falta de pedagogia e excesso de demagogia. Por falta de bons exemplos e excesso de maus incentivos.

Guterres lançou o País no pântano e teve a inteligência de perceber tal, e a honestidade de se raspar porque não tinha solução à vista.  Esperava que alguém fizesse melhor que ele, justiça lhe seja feita. Sócrates é provinciano deslumbrado com o poder, não percebe disso de pântanos, não está preocupado com a liquidação da Pátria, acha que vai ficar na História - o que é inegável, mas pela negativa - e sabe que uma vez apeado, não tem futuro de nenhuma espécie, a não ser a vender automóveis, como diz Henrique Neto, seu correligionário. Por isso não arranca. É como o Presidente da Costa do Marfim: não sai pelo próprio pé - só com pé de cabra.
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