sábado, 30 de abril de 2011

BRAÇOS LEVANTADOS AO CÉU

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PÉROLAS QUEIROSIANAS

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[...] O primeiro episódio oriental que eu vi, ao desembarcar há doze anos em Alexandria, foi este: no cais da alfândega, faiscante sob a luz tórrida, um empregado europeu – europeu pelo tipo, pela sobrecasaca, sobretudo pelo boné agaloado – estava arrancando a pele das costas de um árabe, com aquele chicote de nervo de hipopótamo que lá chamam curbaxe e que é no Egipto o símbolo oficial da autoridade.
Em redor, sem que esse espectáculo parecesse desusado ou escandaloso, alguns árabes transportavam fardos; outros empregados agaloados, de chicote na mão, davam ordens por entre o fumo do cigarro...
Saciado ou cansado, o homem do curbaxe, que era um magrizela, atirou um derradeiro pontapé à anatomia posterior do árabe – como quem, ao fim de um período escrito com verve, assenta vivamente o seu ponto final – e, voltando-se para o meu companheiro e para mim, ofereceu-nos, de boné na mão, os seus respeitosos serviços. Era um italiano, e encantador. A esse tempo o árabe (como quase todos os felás, um soberbo homem de formas esculturais), depois de se ter sacudido como um terra-nova ao sair da água, fora-se agachar a um canto, com os olhos luzentes como brasa, mas quieto e fatalista, pensando decerto que Alá é grande nos céus e necessário na Terra o curbaxe do estrangeiro.
[...]
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Eça de Queirós in “Cartas de Inglaterra”
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PARQUE NACIONAL DOS LAGOS DE PLITVICE - 2008

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Croácia mágica, com centenas de mini-cascatas correndo por todo o lado.
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O RACIOCÍNIO ARGUMENTATIVO

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O site da “EDGE Foundation” tem um link para o artigo, publicado pela revista Behavioral and Brain Sciences, intitulado "Why Do Humans Reason? Arguments for an Argumentative Theory", trabalho denso, de leitura complicada, mas cuja essência é simples. Tudo gira à volta desta pergunta: Porque são os homens tão admiravelmente maus a raciocinar em certos contextos e tão bons a raciocinar noutros?
E a tese dos autores, Hugo Mercier e Dan Sperber, é, no mínimo, curiosa. O raciocínio pode levar a más conclusões, não porque o homem não seja capaz de fazer melhor, mas porque sistematicamente escolhe argumentos que justificam as suas crenças e acções. E o homem comporta-se assim porque a evolução moldou o raciocínio não com o objectivo de atingir a verdade, mas antes de ganhar disputas ou discussões.
Por isso, o método científico, em que cada teoria tem de merecer a aprovação dos pares de quem a formulou, é mais fiável porque corrige, ou pode corrigir, este caminho instintivo do erro programado pela evolução no nosso encéfalo. É, pelo menos, animador verificar que a natureza ainda deixou margem de manobra ao raciocínio para identificar os seus vícios.
Matéria para reflectir face às disputas entre teorias sociais, políticas, económicas, desportivas, blá, blá, blá.
A fotografia é do primeiro autor do trabalho, Hugo Mercier, professor da Universidade da Pensilvânia.
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BLACK AND WHITE

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PIPA MIDDLETON

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Provavelmente, existirão milhões de fotografias do casamento de Catherine e William. Não as vi todas mas tenho a certeza que esta é a melhor. Para quem não sabe, a jovem que conta a anedota ao Príncipe Filipe é Pippa Midllleton, irmã mais nova de Catherine, organizadora de eventos sociais, dama de honor no casamento encarregada de carregar a cauda do vestido da irmã e, por isso mesmo, filmada por trás pela televisão durante longos períodos. O sucesso foi tão grande que já há 33.656 utilizadores do "Facebook" que gostam de uma página chamada Pippa Middleton Ass Apreciation Society (Sociedade de Apreciação do Rabo de Pippa Middleton).
Pippa é muito divertida, dizem, e o Príncipe, aparentemente, também acha. Eh...eh...eh...

O INSÓLITO

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Ontem, verificou-se extraordinária queda de granizo, como poucas pessoas terão alguma vez assistido, na área de Benfica. As fotografias mostradas em cima foram feitas hoje, quase 24 horas depois, na Alameda da Fonte Nova. Apesar da temperatura ser de cerca de 20 graus, ainda persistiam as quantidades de gelo que as imagens mostram.
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Estado dos automóveis estacionados debaixo de árvores durante o temporal, hoje, um dia depois.
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sexta-feira, 29 de abril de 2011

VELEIRO ENQUADRADO

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JÁ VEM DE LONGE!

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[...] Suponha o leitor, queria eu dizer, que está em uma assembleia legislativa. Discute-se o orçamento da receita e despesa, matéria de máxima importância, como se vê logo pela designação. Há grande alvoroço: pedem a palavra, sobem à tribuna os melhores oradores, a lógica e a retórica andam em pleno exercício; e a palavra humana torna-se nesse momento, para usar da expressão de Montalembert, o tipo supremo da beleza, a arma irresistível da verdade. Sobre que se discute? Sobre o orçamento? Não, senhor: os oradores cansam-se, elevam-se, lutam, fazem prodígios da língua, sobre tudo, menos o objecto da discussão. As questões de política especulativa, as recriminações dos partidos, as invectivas pessoais, o inventário parcial do passado, as conjecturas arbitrárias do futuro, tudo o que pode ser alheio ao orçamento entra em pleno serviço; o orçamento, esse ouve falar em seu nome por duas outras vozes mais moderadas, que, entrando no terreno prático, desdenham o palavreado estéril e procuram utilizar o tempo malbaratado. [...]
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Machado de Assis in "Crónicas" (1862)
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VALENTINA LISITSA

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“La Campanella” é o nome corrente do terceiro de seis estudos para piano, da autoria de Liszt – os seis grandes estudos de Paganini - baseados em seis obras de violino de Paganini. Por isso se fala dos estudos Paganini-Liszt, designação muitas vezes mal compreendida.
E já que falamos disso, resta acrescentar que o estudo  é uma peça destinada a exercitar habilidades técnicas específicas do intérprete na execução de um instrumento a solo.
Valentina Lisitsa parece não precisar muito de exercitar seja o que for, dado o seu portentoso virtuosismo, cuja apreciação não é consensual. Há quem goste, mas há também quem ache que o virtuoso faz números de circo, ou coisa parecida, sem grande sensibilidade artística, isto é, sem pôr criatividade emocional na execução - são opiniões, parece-me. Opiniões respeitáveis, mas opiniões.
Do lugar dos ignorantes onde me sento, acho as interpretações de Valentina Lisitsa extraordinárias. Podemos ouvir a seguir a sua interpretação da peça "Für Elise", de Beethoven, em que não há circo nenhum e é lindíssima - 1.511.630 exibições no YouTube!

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LUDWIG SHWAN

 
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Apicultura
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GUERRA, FINANÇA E ARTE

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Em 1917, os Estados Unidos entraram na II Guerra Mundial e o governo lançou uma campanha nacional para recrutar soldados e, sobretudo, angariar fundos para o esforço de guerra: surgiram as “Obrigações da Liberdade”, tendo os artistas importante papel no apelo aos cidadãos para comprarem os títulos. Nesta imagem, uma aguarela do pintor Joseph Pennell, a Estátua da Liberdade aparece decapitada, com a tocha em destroços; e Nova Iorque envolta em chamas. Na realidade, a guerra nunca chegou ao solo americano, mas mais vale prevenir que remediar.
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CASAMENTO REAL

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 Catherine e William casaram hoje em Londres.
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BANCO DE VERSOS

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ATRACÇÃO PELO ABISMO

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O Partido Socialista inscreveu no seu Programa de Governo a intenção de eliminar ainda este ano mais mil cargos dirigentes e equiparados no Estado e fundir mais de 60 organismos e serviços públicos, noticiava há dois dias o jornal “Público”. Temos então que, no fim do ano de 2011, haverá mais mil desempregados a acrescentar às várias centenas de milhares já existentes. Em boa verdade, no estado a que as coisas chegaram, tanto faz. O importante é o Zézito manter a cabeça fora do pântano para respirar, mesmo que o ar seja mal cheiroso, nauseabundo até.

O economista Álvaro Santos Pereira, da universidade canadiana Simon Frasier, diz que “votar no actual governo nas próximas eleições é votar na bancarrota, é votar para os nossos filhos emigrarem, é votar para ter a maior taxa de desemprego dos últimos 90 anos, é votar na irresponsabilidade e, certamente, votar na bancarrota do país".

Segundo o economista, Portugal apresenta hoje os piores indicadores económicos desde 1892, quando entrou em bancarrota, e se não fosse o que considera ser a segunda vaga migratória dos últimos 160 anos, Portugal poderia ter uma taxa de desemprego de cerca de 15 por cento.
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Mas o portuguesinho janota, de esquerda por devoção, socialista por educação, e burro por tradição, acredita e vota no Zézito por atracção... pelo abismo.
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quinta-feira, 28 de abril de 2011

FLORES DE ABRIL

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FRANZ JOSEPH HAYDN

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Intérprete: Ingrid Fliter
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VERMELHO

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A ESQUINA

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28-04-1889 E 27-04-1928

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No ano de 1889, em 28 de Abril – faz hoje 122 anos – nasceu António de Oliveira Salazar. A 27 de Abril de 1928, 39 anos menos um dia depois, fez ontem 83 anos, tomou posse como Ministro das Finanças e só deixaria o poder em 1968.
A fotografia aqui em cima foi feita no acto da posse, na Sala do Conselho de Estado, onde proferiu o famoso discurso em que afirmou: “Sei muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses”.

Salazar já tinha sido Ministro das Finanças antes, por 13 dias apenas. Retirou-se por considerar não ter condições para exercer o cargo. Com a eleição do Marechal Carmona, e na sequência do fracasso do seu antecessor em conseguir um empréstimo externo – o problema é recidivante -, aceitou voltar, mas com condições especiais. À ditadura militar impôs a ditadura financeira, resultando no equilíbrio das contas públicas mais cedo do que tinha feito crer.

Na altura não havia FMI, nem FEEF, nem BCE e outras modernices, prontes. E, também, José Sócrates ainda não tinha nascido, felizmente.
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MARRECO

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NÃO À GENTE DE ÂNIMO DÉBIL

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Os estrangeiros que vieram tomar conta de Portugal querem ver os compromissos assumidos por este governo acatados por qualquer governo saído das próximas eleições, exigência cristalina e de todo razoável. Para isso, os partidos potenciais participantes no futuro governo pretendem conhecer a real situação das contas públicas, nomeadamente quais os encargos futuros com as famosas parcerias público-privadas. O PSD escreveu uma carta ao executivo com 40 questões sobre a matéria, mas as respostas são evasivas, incompletas, manhosas e fugitivas: está a ver-se que há matéria escondida e tentativa de sonegar informação.

Então, o PSD ameaça contactar directamente as organizações estrangeiras envolvidas no resgate de Portugal para conhecer através delas o que deveria saber pelo governo. É o inenarrável feito realidade. O País afunda-se, está na fase de mostrar alguma responsabilidade a quem nos acode, e consome-se em jogadas rasteiras de baixa política.
Aliás, foi a baixa política que nos trouxe até onde estamos. E teima agora, no seu melhor e dando ao mundo um espectáculo de irresponsabilidade inqualificável, manter o mesmo nível rasteiro e rafeiro. Pergunto muitas vezes como pode essa gente dormir com tais feitos no currículo e só encontro uma explicação: a política para eles não tem nada a ver com o interesse do País e da sua gente; é antes um modo de vida em tudo semelhante ao do marginal que vive de assaltos. Não têm problemas de consciência porque acham que isso é próprio dos fracos e a política não é actividade para gente, segundo eles, de ânimo débil. Só pode ser isso.
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O MUNDO RURAL

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Reconfortante quadro saído das páginas de um livro de Júlio Dinis.
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(Tamengos, 2011)
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DRAMA FORA DE ÉPOCA E LUGAR

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O Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, disse que os decisores políticos e os administradores públicos são responsáveis pelo actual estado das contas públicas. Com todo o respeito pelo Senhor Governador, não é necessário ser grande especialista para ver isso. A questão é saber que fazer a essa gente, manifestamente manhosa, incompetente e mentirosa, que atira as culpas para cima dos outros e aparece sem vergonha a reclamar mais poder. Temos um Primeiro-Ministro que prometeu há seis anos criar 150 mil postos de trabalho e tem hoje 600 mil desempregados. Um Ministro das Finanças que anunciou serem juros de 7% para a dívida pública o máximo suportável e pagou cerca de 9% até surgir a ameaça de default; e só pediu humilhantemente ajuda ao estrangeiro porque o País
estava a pouco mais de um mês de ficar sem dinheiro para pagar ordenados, pensões, juros da dívida e os compromissos do tão propalado Estado Social com que os socialistas enchem a boca e arruinam a Nação. E um Ministro da Presidência, manhoso e mentiroso, coordenador das agências de comunicação que o erário público paga a bom preço para cuidar profissionalmente do processamento da mentira governamental, a dizer que o Ministro das Finanças não aparece, isto é, sumiu, porque anda muito ocupado a negociar com os estrangeiros que o tratam abaixo de cão, quando todo o mundo sabe que Teixeira dos Santos foi reduzido à condição de invisibilidade e inaudibilidade pelo chefe do governo, em acção punitiva por não ter realizado o feito de transformar o disparate que é a cabeça alucinada de Sócrates num sucesso mundial, qual milagre da multiplicação dos pães e dos peixes.
Estamos mal, mas ainda ficaremos pior, ou seja, pessimamente nos anos vindouros. É o País que esta inqualificável Terceira República deixa em herança aos nossos filhos e netos. E, o que é muito grave, com a maior das impunidades para os responsáveis por este drama, numa era em que dramas assim só deviam subir à cena fora da Europa. 
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quarta-feira, 27 de abril de 2011

OS GRANDES VELEIROS

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A escuna "American Pride" fotografada de um ângulo feliz.
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(As escunas são veleiros relativamente pequenos em que o maior mastro é o da ré, ou da mezena)
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A RELIGIÃO NA ORDEM SOCIAL

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Se a ideia de Deus não é conhecida na natureza, deve portanto tratar-se de uma invenção humana... Mas não me olheis como se eu não tivesse sãos princípios e não fosse um fiel servidor do meu rei. Um verdadeiro filósofo não pretende de modo algum subverter a ordem natural das coisas. Aceita-a. Só pretende que o deixem cultivar os pensamentos que consolam uma alma forte. Para os outros, é uma sorte que existam papas e bispos para reter as multidões da revolta e do crime. A ordem do Estado exige uma uniformidade do comportamento, a religião é necessária ao povo e o sábio deve sacrificar parte da sua independência para que a sociedade se mantenha firme.

Umberto Eco, in 'A Ilha do Dia Antes'

MALEMA

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PODIA SER FALADO EM PORTUGUÊS

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(Colaboração da António Pedro Fonseca)
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ASSIM FALOU ZARATUSTRA

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Zaratustra, nascido na Pérsia em meados do Século VII AC, foi profeta da religião Zoroatrismo, o que significa qualquer coisa como contemplador de astros. Durante dez anos, segundo as narrativas que chegaram até nós, Zaratustra viveu quase sempre isolado, habitando no alto de uma montanha, em cavernas sagradas.
No livro “Assim Falou Zaratustra”, Nietzsche descreve a vida e os ensinamentos do filósofo de forma fictícia e satirizando o Novo Testamento. Começa assim, no prólogo, numa adaptação da tradução para espanhol:
Quando Zaratustra tinha trinta anos, abandonou a pátria e dirigiu-se às montanhas. Ali gozou o espírito e a solidão, e durante dez anos não se cansou de o fazer. Mas, por fim, o seu coração transformou-se – e uma manhã, levantando-se com a aurora, colocou-se diante do Sol e falou:
“Tu, grande astro! Que seria de tua felicidade se não tivesses aqueles a quem iluminas! Durante dez anos subiste até à minha caverna: sem mim, a minha águia e a minha serpente, ter-te-ias fartado da tua luz e deste caminho. Mas nós aguardávamos-te em cada manhã, libertávamos-te da tua super-abundância e bendizíamos-te por isso.
Vê! Estou saciado com a minha sabedoria, como a abelha que recolheu demasiado mel, tenho necessidade de mãos que se estendam. Gostaria de dar e repartir até que os sábios entre os homens voltem a regozijar-se com a sua loucura, e os pobres com a sua riqueza. Para isso, tenho de baixar à profundidade: como tu fazes ao entardecer, quando transpões o mar, levando luz inclusivamente ao submundo, astro imensamente rico!
Tal como tu, tenho de fundir-me no meu ocaso, como dizem os homens a quem quero baixar. Bendiz-me, pois, olho tranquilo, capaz de olhar sem inveja, até a grande felicidade.
Bendiz a taça que quer transbordar para que dela corra a água de ouro, levando a toda a parte o resplendor das tuas delícias!
Olha! Esta taça quer esvaziar-se de novo e Zaratustra quer voltar a fazer-se homem”.
Assim começou o ocaso de Zaratustra.
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Independentemente dos conceitos filosóficos e religiosos do texto de Nietzsche, a prosa é atractiva e envolvente.  Para quem gosta do género, sugiro uma visita à tradução espanhola do livro neste link.
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PARQUE NACIONAL DOS LAGOS DE PLITVICE - 2008

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O Parque, na Croácia, Património da Humanidade, é um dos locais mais deslumbrantes que me foi dado ver até hoje.
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QUERES FIADO?

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Portugal agora está reduzido a andar por aí, ao deus dará, a pedinchar uma esmolinha por amor da Europa.
Mas a Europa também mudou. Tornou-se muito maior, muito mais complicada, muito mais azeda, muito menos solidária e muito mais cautelosa. Quem havia de dizer! Agora a Europa, depois de nos ter feito uma porção de bonitos, começou a fazer-nos uma série de manguitos. Aprendeu mais depressa connosco do que nós com ela. E quando nos vê a estender a escudela sôfrega, diz-nos aquela frase lapidar que antigamente se via nalgumas mercearias, com o Zé-Povinho empoleirado numa prateleira a fazer a saudação de S. Francisco: "- Queres fiado? Toma!"

Vasco Graça Moura in “Diário de Notícias”

Na realidade, há um facto que os portugueses, ou pelo menos alguns portugueses, como o Dr. Soares, ainda não entenderam, ou não querem entender, porque não é agradável: a solidariedade europeia implica respeito pelas normas, honestidade no comportamento, e solidariedade colectiva, incluindo dos mais fracos, como Portugal. Se surgem indícios de exploração da tão badalada solidariedade, configuradas na falta de rigor da administração, com despesa que não há claramente capacidade de pagar, e contas falseadas para encobrir a tentativa de viver à custa do outro, naturalmente que o português começa a receber manguitos.
Hoje, liga-se o rádio e ouvem-se programas em que os ouvintes salientam a traço grosso as conquistas da democracia. Foram tais conquistas feitas com a riqueza fruto do trabalho de Portugal, administrada com rigor e bom senso? Não foram. Tudo se atingiu à custa de um insensato endividamento externo, levado até à inenarrável situação de insolvência em que nos encontramos. Mas, em boa verdade, não me surpreende a atitude de complacência dos portugueses face a quem nos levou até esta situação: no fundo, é assim que quase todos gerem as suas vidas particulares, afundadas em compromissos financeiros que ninguém vê como vão honrar.
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SABOR DOS VELHOS TEMPOS

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terça-feira, 26 de abril de 2011

LATINO COELHO

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Latino Coelho apenas saía de casa durante o dia para ir dar aula á Escola Politécnica — sempre acompanhado pelo irmão, porque a sua neurastenia lhe não permitia andar só. Numa carta a Teixeira de Vasconcelos, publicada na Revista Contemporânea, ele mesmo confessa ser «uma organização excentricamente nervosa»; depois fala de outros casos da sua vida, como dizer el-rei D. Fernando que ele só fazia flores e alguém, creio que fora Carlos Bento, tê-lo definido um estilo, a procura de uma ideia. Também Bonaparte chamou a madame De Staêl une fraseuse e esta odiosa opinião em nada a prejudicou perante a posteridade.
Latino era sem dúvida um estilo, um belo e soberbo estilo, onde as flores não faltavam, como no manuelino; mas dentro desse opulento estilo, que profundeza de conceitos, que vasta erudição, que saber fortemente cimentado em conhecimentos científicos e adquirido nas muitas línguas que Latino versava facilmente! Neste homem ilustre o conversador, ou o orador académico e parlamentar, não ficava jamais desnivelado com o plumitivo.
Ele dizia coisas lindas e sábias com a sua vozinha de velha rabugenta, num gesto frequente de compor o cabelo e o colarinho. Era um prazer, uma delícia ouvi-lo — e aprendia-se sempre lendo-o ou escutando-o.
À noite, Latino saía de carruagem com as irmãs e o irmão. Os dois apeavam-se á porta da livraria Silva, e as senhoras ficavam dentro do trem, onde esperavam às vezes longas horas. Porque em estando a conversar naquela livraria ou em qualquer outro lugar em que se lhe deparassem amigos, Latino distraía-se, animava-se, esquecia-se de si próprio, dos seus nervos doentes, e não dava tento das horas que iam passando.
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Alberto Pimentel in “Memórias do Tempo de Camilo”
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CÉU GERALMENTE POUCO NUBLADO

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GRANDE VALSE BRILLANTE, OP. 34

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O intérprete é o pianista Evgeny Kissin.
As imagens são do editor deste blog.
As flores são de Tamengos e Curia.
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JANELAS DE PORTUGAL

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DISSERAM-LHE QUE TINHA GRAÇA

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Quanto mais mexe, pior fica na fotografia!
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segunda-feira, 25 de abril de 2011

OS GRANDES VELEIROS

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O navio "Stavros S Niarchos" já apareceu neste blog. Hoje volta porque encontrei esta fotografia muito bonita. Vai acompanhada de um curto vídeo, em baixo, também com imagens interessantes para quem gosta do mar.
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CURIA

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A ESCOLA DE SAGRES

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Em Sagres reunira o infante todos os recursos de que então dispunham a cosmografia e a arte de navegar. D. Pedro trouxera-lhe das suas viagens o manuscrito das peregrinações de Marco Paulo. Esses livros, os mapas de Valseca, as narrativas e roteiros dos pilotos, as rudes cartas marítimas, faziam vergar as mesas, a que o infante, tendo ao lado o seu cosmógrafo, Jayme de Mayorca, então célebre, rodeado de discípulos, passava os dias a discorrer, as noites a interrogar, silenciosamente, os enigmas propostos nos textos e desenhos. Como Raymundo Lullio, entre as drogas e retortas do seu laboratório se extenuava a buscar o princípio da vida, os corpos simples ou elementares da matéria para obter o segredo da existência física e orgânica: assim o infante procurava desvendar os segredos das ilhas e dos continentes, dos golfos e enseadas, velados pelo manto azul-negro do Mar Tenebroso.
Essa paixão naturalista da Renascença nos seus primeiros tempos, essa tenaz curiosidade científica, diferia essencialmente do misticismo religioso da Idade-Média, eivado de fantasias cabalísticas, e da ingenuidade das mitogenias primitivas. O homem já preferia a ciência à imaginação: rejeitava as fábulas, e confiava tudo aos processos e aos meios positivos. «Ora manifesto é, diz, um século depois, Pedro Nunes, que estes descobrimentos de costas, ilhas e terras firmes não se fizeram indo a acertar; mas partiam os nossos mareantes mui ensinados e providos de instrumentos e regras de astrologia e geografia, que são as cousas de que os cosmógrafos hão de andar apercebidos. Levavam cartas mui particularmente rumadas, e não já as que os antigos usavam, que não tinham mais figurados que doze ventos, e navegavam sem agulha.» A bússola, o astrolábio e o quadrante já guiavam as expedições marítimas enviadas anualmente de Sagres pelo infante, a sondar o Oceano, ou a descer a costa para o sul. Porto Santo, a Madeira e os Açores foram por esta forma arrancadas às trevas do mar. Mas, apesar das sucessivas investidas, não se conseguira ainda dobrar o cabo Bojador, limite extremo até onde a costa era conhecida: havia doze anos que os navios iam e voltavam sem resultado. Era uma barreira natural, junta a um muro de terrores fantásticos.
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Oliveira Martins in “História de Portugal”
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CURIA

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Parque do Hotel das Termas
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FLOR DO ENTULHO

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Na página do Facebook, o socialista José Lello escreveu: «Este presidente é mesmo foleiro. Nem sequer convidou os deputados para a cerimónia do 25 Abril».
Lello faz parte da fina flor do PS. Como se vê pelo citado, a flor é do entulho.
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O COMPASSO DA PÁSCOA

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OS CRAVOS MURCHARAM

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As quatro personalidades retratadas aqui em cima falaram hoje em dever. Não daquilo que Portugal deve aos credores, especuladores segundo algumas versões, mas daquilo que se deve fazer. Na realidade, além de devermos muito – tanto que nunca vamos pagar –, ainda devemos outras coisas, como por exemplo ouvir personalidades a debitar bitaites inconsequentes.
Dever de renovar a democracia, falou Sampaio; de não cair em pessimismos doentios, disse Soares; de transformar a ameaça em realização, segundo Eanes; e de serem os portugueses de hoje os heróis do presente, alvitrou Cavaco.
Ponto um – Retórica circunstancial no tão criticado estilo do chamado e já defunto Estado Novo.
Ponto dois – Os cravos vermelhos estão murchos.
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O FELINO DA SELECÇÃO ARTIFICIAL

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(24-04-2011)
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É DEMOCRACIA OU SÃO JERICADAS?

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O Zézito afirmou hoje que há muito tempo anda a apelar à concertação entre todos os políticos e que Portugal poderia ter evitado muitas situações caso tivesse seguido esse espírito. Para o Zézito a concertação entre todos os políticos consiste em falar ele e os outros abanarem as orelhas. E também em engolirem as insolências que o Zézito bolsa de quarto em quarto de hora. Assim mesmo.
No momento em que o FMI estuda os buracos abertos pelo Zézito e vai anunciando a necessidade de consenso sobre as medidas penosas de austeridade que aí vêm, Zézito y sus muchachos esmeram-se em provocar a oposição com tiradas rufias. São os Silvas, o Lacão, o Pereira, o Assis, o Lello, e mais o Silveira e o Vitalino, a atearem a fogueira da rufiagem sempre que a oportunidade surge – um desfile de bestas sem sentido de estado, em suma. Dizem eles que é Democracia!...
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PARQUE FLORESTAL DE MONSANTO

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