quinta-feira, 19 de maio de 2011

GEORGE CARLIN

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Geoge Carlin, autor, humorista e actor americano, morreu há três anos, com a idade de 71. Pouco antes, havia escrito uma peça hoje muito citada, de que aqui traduzo toscamente o essencial porque tem algum interesse.

O paradoxo do nosso tempo é que temos edifícios mais altos e índoles mais baixas, estradas mais largas e pontos de vista mais estreitos. Gastamos mais e temos menos, compramos mais mas gozamos menos. Temos casas maiores e famílias mais pequenas, mais possibilidades mas menos tempo. Temos mais qualificação mas menos senso, mais conhecimento mas menos discernimento, mais especialistas mas maiores problemas, mais Medicina mas menos bem-estar.
Bebemos muito, fumamos muito, arriscamos muito, rimos pouco, conduzimos depressa, zangámo-nos de mais, deitámo-nos tarde e levantámo-nos cansados, lemos pouco, vemos televisão a mais, e raramente oramos.
Aumentámos o nosso património mas reduzimos os nossos valores. Conversamos pouco, amamos raramente, e odiamos com frequência.
Aprendemos como viver, mas não como ter uma vida. Acrescentámos anos à vida mas não vida aos anos.  Conseguimos ir à Lua e voltar mas temos dificuldade em atravessar a rua para encontrar um vizinho. Conquistámos o espaço exterior mas não o interior. Fizemos grandes coisas mas não coisas melhores.
Melhorámos o ar mas poluímos a alma. Controlámos o átomo mas não os nossos preconceitos. Escrevemos mais mas aprendemos menos. Planeamos mais mas realizamos menos. Aprendemos a apressar-nos mas não a esperar. Construímos mais computadores para armazenar mais informação, para produzir mais cópias do que nunca mas comunicamos cada vez menos.
Este é o tempo da comida rápida e digestão lenta, dos grandes homens e caracteres pequenos, dos lucros altos e contratos rasteiros. Estes são os dias dos dois ordenados mas mais divórcios, das casas de sonho e lares desfeitos. Das viagens rápidas, dos lenços de papel, da moralidade descartável, das dormidas de uma noite, do excesso de peso, e dos comprimidos que fazem tudo, desde excitar a acalmar e a matar. É o tempo em que há muito na montra e pouco no armazém. [...]
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