quinta-feira, 30 de junho de 2011

INVESTIGAR É INVESTIMENTO EMPRESARIAL

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A Ciência foi muito tempo prática incipiente e representou parte pouco significativa da actividade humana. Nos últimos séculos, desabrochou primeiro, cresceu depois, e explodiu finalmente. Chegámos à fase em que pode tornar-se ameaça para a humanidade, e não sua aliada. Dito isto assim, secamente, parece tirada pífia de ficção científica. Infelizmente não é. Toda a descoberta é potencialmente boa, e potencialmente má, dependendo do que se faz com ela.  
Por um lado, a capacidade científica cresceu a ponto de poder modificar o homem e o ambiente de forma perigosa, como já se vai vendo. Por outro, a confiança na capacidade dos cientistas para seleccionar e controlar a investigação, bem como a utilização dos seus frutos, parece não ter base. Alguém disse que, no futuro, tudo o que seja científica e tecnicamente possível fazer será feito. Isso é mau! Muito mau!
Veja-se a saúde. A investigação médica realiza, financeiramente e em recursos humanos, esforços enormes com enfermidades como o cancro e as doenças cárdio-vasculares, problemas dos países ricos. Paralelamente, passa ao lado, ou quase, da investigação sobre doenças infecciosas endémicas que são chagas do terceiro mundo, onde ceifam número assustador de vidas. A venda de medicamentos para as doenças dos ricos é comercialmente muito mais sedutora que a venda de remédios aos pobres...
A investigação científica e a tecnologia estão hoje claramente dependentes do financiamento de corporações cujo objectivo é retirar lucros. A investigação independente só é possível através de instituições públicas. Mas o custo é proibitivo, pelo que, globalmente, representa quase nada – durante a vida da defunta União Soviética, por exemplo, a sua contribuição para a investigação farmacêutica, quando comparada com a das grandes multinacionais capitalistas, foi zero.
O que se refere sobre a saúde aplica-se a quase todas as áreas científicas. Como já alguém disse, este é o século em que os perigos para o homem criados pelo próprio homem são maiores que os que nos chegam da natureza. Não planeamos seriamente o que investigamos. Não controlamos o que descobrimos. O interesse comercial reina. Libertámos o génio e não o dominamos, apesar de o alimentarmos. Matámo-nos por sermos tão inteligentes! Ou porque somos demasiado ingénuos - o mesmo que sermos estúpidos.
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