terça-feira, 20 de março de 2012

TEMPO DE HOLISMO

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O todo é maior que a soma das partes. Esta é a forma coloquial de resumir o holismo. Anda lá perto, mas acho que é tosca. Não que não tenha o atractivo da simplicidade, mas é tosca porque o objecto do holismo é a qualidade e não a quantidade. Por exemplo, as moléculas de carbono, hidrogénio, oxigénio, azoto, enxofre e ferro, individualmente, têm propriedades que são uma coisa; e a vida de que são constituintes é outra diferente. Ou então: os indivíduos têm qualidades que não se traduzem linearmente na qualidade da sociedade que formam. E também: o monte de areia que construímos na praia é formado por minúsculas partículas minerais com características físicas diferentes; mas os fenómenos físicos que permitem ao monte de areia manter-se em pé não são o somatório dessas características.
Podiam repetir-se os exemplos até amanhã, mas não interessa. Interessa é perceber que o conhecimento da constituição duma coisa até ao mais ínfimo pormenor não chega para 
perceber essa coisa. Sabemos que o homem é formado por células formadas por moléculas ou combinações de átomos, por sua vez construídos com protões, neutrões e electrões, constituídos por quarks, leptões e bosões, provavelmente “cordas” de energia. Mas a tão grande avanço do conhecimento da constituição do homem não corresponde igual avanço na compreensão do seu “funcionamento”. Como consegue esta cangalhada ter consciência e inteligência, criar as línguas, a escrita, a imprensa e o Benfica, ir à Lua, jogar xadrez?
Isto é, os todos têm propriedades que não estão contidas nas propriedades das partes e o estudo das propriedades dos todos não pode resumir-se ao estudo exaustivo das propriedades partes. Nos últimos séculos, a ciência tem percorrido o caminho de “partir pedra” ou a matéria em fragmentos cada vez mais pequenos e tem tido algum sucesso em percebê-la. Mas estamos a chegar ao limite das possibilidades desse caminho. É muito mais difícil perceber como as células de um organismo - seja do homem, seja dum animal mais simples - trabalham em conjunto, do que perceber como cada uma trabalha individualmente. Entrámos na época da visão global; da disciplinas do “todo”; e da abordagem filosófica da ciência. O tempo holístico é de viragem, prontes!
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