segunda-feira, 28 de maio de 2012

A VÍRGULA NOVAMENTE


Falávamos há dias de Ben Yagoda, professor de inglês e colunista do “New York Times”, e da dificuldade do uso das vírgulas. Segundo Yagoda, há poucas regras bem fundamentadas, e muitas são discutíveis por o uso da pontuação ser feito com propósitos diferentes, nomeadamente para melhorar o estilo quando o autor acha que isso funciona. Por exemplo, em 1813, Jane Austen escreveu no livro “Orgulho e Preconceito” a seguinte frase:

É uma verdade universalmente aceite, que um homem solteiro possuidor de fortuna, deve procurar uma esposa (wife - mulher, consorte, conjugue - não interessa).

As vírgulas a seguir a “aceite” e a “fortuna”, aparentemente estão a mais. Mas Austem terá querido, por razões de estilo, introduzir uma pausa a seguir a essas palavras. Ela lá sabia. E os puristas da gramática metem a viola no saco – mais nada!
Mas nós não somos Austen nem Eça, e agora?
Por exemplo, na frase “Amanhã por esta hora estarei em Vila Franca de Xira”, põem os leitores vírgulas, ou não? Ou em “ Duma maneira geral os socialistas não dão uma para a caixa”; ou “À noite a visibilidade pode ficar muito má”. Põem-se vírgulas, ou não se põem vírgulas?
De acordo com Yagoda, é facultativo: fica ao critério de quem escreve; com a noção de que as versões sem vírgulas são um bocado de rajada. Mas tal pode ser desejado por quem escreve, por exemplo no fim de extenso parágrafo para encerrar a matéria que já vai longa. Acabar uma coisa assim, de supetão, pode ser intencional no estilo.
Na realidade, a sensibilidade de quem redige tem mais importância que as regras e essa sensibilidade cultiva-se. Cultiva-se como? A ler, pois claro. Se possível - em português - Eça, Camilo, Ramalho, Fialho - Saramago, não!... Baptista Bastos nunca!...
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