terça-feira, 26 de junho de 2012

O INCONTORNÁVEL SALVADOR DA PÁTRIA

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Diz o "Diário de Notícias" de hoje, com um nadinha de  triunfalismo e alguma ironia, que a carta assinada pelo Ministro da Economia de Espanha a pedir apoio financeiro tem erros: falta de acentos, gralhas, pontuação mal colocada - a mais nuns casos, a menos noutros - e provavelmente coisas ainda piores. Anoto a preocupação do periódico com a correcção da ortografia e  sintaxe castelhanas.

E já que falamos em pontuação, ortografia e sintaxe - porque não em estilo também? - remeto os responsáveis pelo jornal para a deliciosa, imprescindível e notável crónica das terças-feiras do Dr. Soares, hoje mesmo dada à estampa.
Começa assim o Dr. Soares:

Por mais otimista, por temperamento ou qualquer outra razão, que queiramos ser - e eu tenho essa tendência -, os tempos que vivemos, nos últimos anos, objetivamente considerados, conduzem-nos, necessariamente, ao pessimismo, senão mesmo ao desespero, quanto ao futuro próximo.

Não sou nenhum Baptista Bastos, cultor fluente da escrita de fino recorte barroco, mas confesso que o período do Dr. Soares me deixa dispneico, parkinsónico, atáxico e a tropeçar nas pedras da calçada. São 40 palavras e 10 vírgulas! A razão é de uma vírgula por cada quatro palavras.  O Dr. Soares frequentemente não olha a despesas.  Em matéria de vírgulas, nunca.

Mas há mais. No terceiro parágrafo, começa assim:

Também a Líbia, o Iémen e agora, principalmente, a Síria, onde o governo de Bachar al-Assad organizou, para se manter no poder, uma carnificina generalizada e inaceitável das suas populações, que perdura acerca de um ano. [...]

 Acerca de um ano, pode dizer-se muita coisa: que tem 365 ou 366 dias, 52 semanas, 12 meses, que foi seco ou chuvoso e por aí fora. É o que se pode dizer acerca de um ano. Pode também dizer-se que uma precisa carnificina perdura há um ano, ou há cerca disso, isto é, há cerca de um ano. É verdade, João Marcelino, ilustre Director do jornal: o Dr. Soares - embora muito raramente, digo eu - engana-se. Se excluirmos os juízos sobre a Senhora Merkel, naturalmente.
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