sexta-feira, 24 de agosto de 2012

MUNDO VIRTUAL

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Estou sentado junto a uma mesa rectangular de madeira castanha, com papéis em cima. Bato com os dedos no tampo e ouço o som típico da madeira. A pergunta é: se outra pessoa chegar à sala, olhar e bater na mesa, apercebe-se do mesmo que eu? A resposta é não.
Isto é, aquilo que  vejo naqueles móveis é diferente para essa alma e, ironicamente, também para mim noutras circunstâncias — por exemplo, se me levantar e colocar do outro lado da sala, o brilho da mesa é diferente e até a cor muda. E, se estiver num topo, esse lado é maior que o oposto e vice-versa. E, se observar o tampo com um microscópio, a mesa não é lisa como parecia, mas bastante irregular, cheia de sulcos e buracos.  Está boa esta! Afinal, como é a mesa? Em boa verdade, ninguém sabe.
A conversa pode parecer de loucos, mas é o resumo duma pequena parte do livro de Bertrand Russel "The Problems of Philosophy". A ciência explica isto tudo com as leis da reflexão da luz, da perspectiva, da ampliação dos objectos, mas não diz o que na realidade é a realidade.  Não diz porque não sabe, nem ninguém sabe — então há filósofos, no caso filósofos científicos como Russel era.
Escreveu ele: Há algum conhecimento no mundo tão certo que nenhum homem inteligente possa duvidar dele? A resposta parece fácil, mas não é — não há verdades indiscutíveis, a não ser, ironicamente,  a verdade de que tudo é discutível. Russel morreu em 1970, muito antes de  Robert  Lanza aparecer com a Teoria do Biocentrismo, em 2007. Lanza não parece ter dúvidas: objectivamente, não há essa coisa chamada realidade — o que existe é uma multidão de realidades subjectivas que habitam nos encéfalos dos seres vivos e com que aprendemos a viver e chegámos a acordo, apesar da minha realidade ser diferente da tua e a tua da deles.  O que chamamos vermelho pode ser uma percepção diferente para cada um, mas convencionámos que a percepção  a que chamas vermelho e que nem sei como é, também eu chamo vermelho, apesar de poder ser diferente.
Estendendo a massa até ao limite, podemos chegar ao ponto de dizer que tudo é virtual, ou seja, o mundo só existe na nossa consciência. É engraçada a ideia, mas só aconselhável a quem não tiver nada para fazer — caso contrário, podem começar a surgir problemas  no trabalho com os chefes, pouco sensíveis a esta especulações: uns artolas!
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