quinta-feira, 30 de agosto de 2012

UMA COISA QUE PENSA

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Tem a existência significado, propósito, é uma necessidade? A verdade é que somos coisas acidentais e contingentes, que facilmente podíamos não ter existido. Facilmente como? Basta fazer contas simples. O genoma humano tem cerca de 30.000 genes, havendo um par (alelo) de cada um. Assim, o número máximo de combinações possíveis é igual a 2 elevado a 30.000, o que dá um número com um 1 seguido de 10.000 zeros, aproximadamente. Estima-se que, desde a emergência da nossa espécie, já nasceram à volta de 40 mil milhões de seres desta espécie. Mesmo cortando por largo, considerando 100 mil milhões, a fracção de seres que existiram representará  menos de 0,0000...000001 (incluir dez mil zeros no lugar das reticências) do total possível. Fazemos parte dessa fracçãorepito, cada um de nós teve 1 probabilidade de existir em 10 elevado a um número que nem sei como se lê: é obra! Tivemos sorte!
Tivemos sorte? Ou não? Há pontos de vista; ou teorias; ou convicções; ou crenças; ou fés.   Richard Dawkins, o ateu, acha que sim. No coro da tragédia "Édipo em Colono", Sófocles diz que nascer nunca é o melhor. Bertrand Russel vagueiano meio de considerações sobre a quem se deve agradecer o ter nascido, se aos pais, se ao espermatozóide que chegou primeiro e fecundou o óvuloe admite que pode ser melhor existir que não existir e, por isso, fala das precedências protocolares dos agradecimentos ao espermatozóide,  versus agradecimento aos pais (não lembra ao Diabo!).
Mas as coisas são mais compridas — tão compridas que não cabem num blog — porque depois vem o problema do eu, ou do ego. O que caracteriza o cidadãoou cidadãé o genoma, ou o ego? Descartes, com essa coisa do "penso, logo existo" encerrava a discussão: ego é a cabecinha pensadora. De acordo com as leis da Biologia, o ego deve ser determinado pelo genoma. Mas os gémeos homozigóticos, com genomas iguais, não têm o mesmo ego.  Pode mesmo perguntar-se se o ego é característica fixase não há um ego hoje, outro amanhã, outro para a semana, blá, blá, blá. E se há, o que nos dá a individualidade? Estava Descartes a asnear? Uma trapalhada!...
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