segunda-feira, 27 de maio de 2013

'CHALET' BARROS

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Estoril, 25-05-2013
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Pelo ano de 1886, mais ou menos, um rico capitalista lisboeta, de seu nome João Martins de Barros, foi habitar em São João do Estoril, numa casa em frente da Poça. Adoecera-lhe um filha e esperava vê-la curada pelo ar do pinhal e do mar.
O milagre, mais uma vez, desceu à terra. A criança anémica robusteceu-se, criou rosadas cores de saúde, brilho nos olhos, recuperou a alegria de viver. Então o pai, encantado, dispôs-se a fazer uma casa no local onde se operara a maravilha. Escolheu para ela um poiso deslumbrante
o antigo Forte de Santo António do Estoril, muralhas quase ruídas, mas ainda alcandoradas sobre os rochedos que afloram, à esquerda de quem olha o mar, no areal do Estoril. [...]

[...] Esse forte, tal como os outros que o acompanham, representa uma relíquia da era de seiscentos. Na altura em que João Martins de Barros o comprou ao Estado já não tinha artilharia nem guarnição. Abandonado à erosão do vento e das chuvadas ia-se desagregando, lentamente, e caminhando para a ruína. [...]

[...] Combinou-se com um empreiteiro a transformação do forte num palacete aparatoso. Houve para a obra um projecto aprovado entre construtor e proprietário, um preço aceite, um prazo estabelecido. O construtor, um italiano, chamava-se Cesar Ianze [...]

[...] Finda a obra, instalou-se na casa a família do proprietário—e a sua filha, a quem o clima do Estoril restituíra a vida. Cesar Ianze, o construtor do palacete, porém, apresentava nessa altura um aspecto de profundo declínio.
Gastara mais do que previra, nessa obra aceite por empreitada. Arruinara-se com ela. Desgostoso, alquebrado, vencido pela sorte, deixou-se dominar pela neurastenia e pouco depois morreu.
Morreu de desgosto. Mas o palacete não tem visitas de fantasmas.

Branca de Gonta Colaço e Maria Archer in "Memórias da Linha de Cascais".

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