terça-feira, 28 de maio de 2013

O TEMPO E A ALMA

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Dizia eu ontem que o homem, na versão actual, tem cerca de 50 mil anos. Foi precedido por numerosas espécies menos diferenciadas, provavelmente com origem em África e a partir do chimpanzé. É legítimo perguntar em que momento dessa evolução surgiu nele o que os teólogos chamam alma, característica de diferenciação ontológica.
Se se começa num ser sem tal dom, como o chimpanzé, e se chega a outro com ele, há necessariamente um momento de instilação da qualidade. Foi quando o ADN atingiu o actual perfil? Foi antes? Foi depois? Parece que ninguém sabe, nem se teoriza sobre a matéria.
Um belo dia, tive oportunidade de falar sobre isso com um doente meu, doutorado em Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Perante a pergunta, olhou para mim e declarou que isso não interessa nada. Salvo o respeito devido por tão ilustrada personalidade, acho que interessa até bastante. Pode dizer-se que não se sabe, naturalmente, mas interessa—pelo menos, pensar e especular interessa. E explico porque digo isto.
O conceito de alma imortal está classicamente associado ao de religião, sendo religião a crença num ser sobrenatural que impõe comportamentos  e práticas de culto. Tal exige diferenciação intelectual que não existia, por exemplo, no Ardipithecus ramidis. Daí que se possa inferir ter a religião surgido muito próxima do aparecimento do homem moderno, há 50 mil anos como referido. Até aqui, vai tudo bem.
Mas surge um problema: as religiões monoteístas—as únicas que vale a pena contemplar nesta matéria—foram reveladas por profetas ou equivalentes e tal aconteceu há escassos milhares de anos (o homem moderno tem 50 mil anos, recordo). No plano teórico, é legítimo perguntar o que acontecia, ou aconteceu, com as putativas almas anteriores a essas revelações. Ou, de facto, só surgiram  as almas a partir das revelações?
O teólogo que referi que me desculpe, mas interessa. Bastante, digo eu.  
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