domingo, 25 de agosto de 2013

ARISTOTELIS DE MORIBUS AD NICOMACHUM

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Quando era jovem, ouvia dizer que um acto era altamente reprovável quando pior que bater na avó ou cuspir na sopa. Bater na mulher não fazia parte da bitola que, em termos de zurzir parentes, falava apenas na avó. Portanto, uns bofetões na mulher não seria considerado coisa muito grave—talvez pedagógica até.
As coisas mudam com o tempo e é bem possível que bater na mulher seja agora tão mau como cuspir na sopa. Não sei. É a evolução dos costumes e da ética. Mas fiquei a saber que uma juíza de instrução da nação lusitana, onde a apologia de beber uns copos para incrementar a alegria no trabalho está em vias de fazer jurisprudência, considera que bater na mulher é acto incomparavelmente menos doloso que cuspir na sopa.
Tudo é relativo e, consequentemente, discutível. A Senhora Dr.ª Juíza de Mação deve andar embrenhada em leituras filosóficas. A avaliação ética faz-se pelas acções, ou pela qualidade moral de quem as produz? Aristóteles, que opinava ser o importante a qualidade moral do cidadão, mesmo que isso incluísse alguns bofetões na mulher, teria talvez absolvido o agressor por ser bom rapaz. A magistrada de Mação—suspeito—achará também que um estalo bem dado no tempo certo pode constituir acto ético louvável. Pelo menos, até ao dia em que um seu marido, se o tiver, lhe pregar um par de estalos na cara com pontaria afinada. Aí, quiçá, acabarão as decisões aristotélicas de Sua Excelência.
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