quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O INTOCÁVEL CUNHAL

.
No recente livro de José Milhazes ("Cunhal, Brejnev e o 25 de Abril"), cita o autor um relato de José António Saraiva—na altura ainda a trabalhar como arquitecto, mas a fazer entrevistas para o "Expresso"—dum episódio ocorrido quando entrevistava Cunhal.
A dada altura, Saraiva perguntou, a respeito da perestroika: "O PCP concorda com a autocrítica das autoridades soviéticas a certos excessos praticados pelo regime comunista. Mas quando eles ocorreram, o PCP nunca os criticou e, pelo contrário, esteve sempre ao lado do poder na URSS. Pergunto-lhe: o PCP desconhecia o que se passava, ou sabia, mas encobriu? E, se desconhecia o que se passava na URSS, porque a apoiava com tanta convicção?"
Cunhal terá ficado furioso, disse que os jornalistas só lhe faziam perguntas provocatórias, que não estava disposto a isso, rebabá..., ao que Saraiva respondeu que não era jornalista e estava apenas a fazer uma entrevista para o "Expresso" como colaborador.
Cunhal ficou pior, saltaram-lhe os estribos das botas e disparou: "Não é jornalista? Então não dou a entrevista! Só dou entrevistas a jornalistas."
O episódio é exemplar. Cunhal, como homem inteligente, sabia muito bem o lixo que era a URSScomo sabiam todos os "arrependidos" que estavam para vir, como Pina Moura, Judas, Veiga de Oliveira, Zita Seabra e por aí fora. Mas vivia protegido pelo "respeito" que os jornalistas lhe tinham e assim, à mistura com sorrisos superiormente irónicos para algumas críticas, ia levando a vidinha. Quando "encurralado", reagia mal, como foi o caso. Tinha qualidades intelectuais, eventualmente muitas outras, mas comprometidas com fraca missão. Merecia ter investido em melhor causa.
.

2 comentários:

  1. Finalmente acertei no local para fazer um comentário. Boa!
    Eduardo Corvo.
    Depois falamos. Abraços

    ResponderEliminar