sexta-feira, 29 de novembro de 2013

HOMEM RICO, HOMEM POBRE

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Um das nódoas na actuação deste Governo—talvez a maior—é a gestão escandalosamente  injusta da austeridade. Esta é aplicada com ligeireza a quem está à mão e não pode criar problemas, mas poupa os que têm capacidade de reagir. Mesmo que os poderosos fossem uma minoria insignificante (não são), a preocupação em atingi-los com medidas equivalentes às impostas aos fracos, se não mesmo mais pesadas, era indispensável. A imagem de sacrifícios distribuídos selectivamente é inaceitável do ponto de vista social.
Vem esta conversa a propósito dum excerto que se lê hoje no jornal "i", da autoria de Saragoça da Matta. Diz assim:

[...] É que se é certo que as especiais regras de aposentação e as subvenções mensais vitalícias dos deputados "terminaram", não menos certo é que apenas "terminaram para o futuro": quem já tinha o direito "adquirido" não o perdeu, sendo ainda centenas os deputados que se aposentaram, e aposentarão, com regras especialíssimas, havendo outros tantos que percebem mensalmente essas incompreensíveis subvenções mensais vitalícias. Ou seja, continuam a auferir esses estipêndios injustos e vergonhosos, porque "direitos adquiridos" não se cortam—só se podem cortar aos "outros" os direitos adquiridos às pensões e vencimentos. [...]

O acabar com os direitos adquiridos dos senhores deputados não resolve a crise. Todos sabemos isso—o buraco é tão grande que nem toda a estupidez do Zezito tapa metade. Mas, senhores deputados da maioria e senhores ministros: mostrem que são capazes de atacar os vossos pares e tratá-los da mesma forma que tratam o português anónimo. O mesmo para as grandes empresas e os plutocratas, apoiados por legiões de advogados capazes de levar a contestação até às últimas instâncias judiciais.
Para não ser muito grosseiro, direi que não tendes balls. O povo entende… Mas também suspeita que, entre falta de balls e muita incompetência, há uma mal disfarçada preocupação em acautelar o futuro—é que esses intocáveis podem vir a revelar-se bons portos de abrigo em anos vindouros. Conhecemos exemplos—nada melhor do que manter boas relações com eles.
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