segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

CUIDADO COM A CABEÇA

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O conceituado site "The Atlantic" publicou há dois dias uma peça intitulada How the World Changed in 2014, pretendendo mostrar a evolução da sociedade a nível planetário no ano que agora acaba. E o que nos diz o artigo? Informa-nos sobre alguns dados "estatísticos" escolhidos aparentemente sem critério, ou com critério mais que discutível.
Por exemplo, que o número de golpes de estado subiu 100% a 200%, em relação ao ano passado. As contas do autor são como segue. O ano passado, houve um golpe no Egipto. Este ano, o mesmo aconteceu na Tailândia e no Burkina Faso. Na Ucrânia, há dúvidas se o derrube de Yankovych foi um golpe. Se não foi, os golpes foram só dois o que dá uma percentagem de aumento de 100%. Se sim, foram três os golpes e a percentagem é de 200%.  Isto é, estamos em face da história do frango: se eu comer um frango e tu não comeres nenhum, cada um de nós comeu meio frango.
Estatística é ciência com regras. Falar de percentagens exige amostras significativas—caso contrário, é anedota. O referido é asinino, como são asininos outros números do artigo, verbi gratia que o número de membros do Grupo dos 8 diminuiu 12,5%  porque a Rússia foi expulsa e o Grupo passou a ser G7 (óh égua!). Ou que a temperatura global média excedeu em 0,5 graus Celsius a média do Século XX (óh jerico!).
Pode dizer-se que a asneira é livre, não paga imposto e não tem importância nenhuma; mas não é verdade. A técnica, frequentemente não tão desinteressada como parece, origina vieses na cabeça das pessoas desprevenidas. O "British Medical Journal" costuma publicar no Natal artigos/anedota para divertimento dos leitores: por exemplo, este ano conclui que os homens morrem mais cedo que as mulheres porque são estúpidos. O problema é que já têm sido encontradas referências a alguns desses artigos antigos em artigos actuais e sérios.
Há muitas maneiras, algumas pouco decentes, de meter bosta na cabeça das pessoas. Por isso, o melhor é estar de pé atrás como o Senhor dos Passos. E não acreditar em tudo que se lê, mesmo escrito em locais reputados, ou considerados como tal.
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