sábado, 27 de dezembro de 2014

EM ITÁLICO

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José Sócrates, preso em Évora, inaugurou uma nova prática: a de conceder audiências na cadeia. As peregrinações de inúmeras figuras públicas à penitenciária de Évora, sob a capa aparente de visitas de apoio e solidariedade, mais não parecem do que exercícios de vassalagem. Ao longo de anos e enquanto governante Sócrates garantiu ganhos milionários a alguns dos maiores grupos económicos, em particular na Finança e nas Obras Públicas. Todos aqueles que Sócrates beneficiou estarão agora a ir à cadeia beijar-lhe a mão. Será uma questão de gratidão. Por lá passaram e continuarão a passar os concessionários das parcerias público-privadas (PPP), a quem Sócrates garantiu rendas obscenas em negócios sem risco. Assim, não será de estranhar que o todo-poderoso Jorge Coelho, presidente durante anos do maior concessionário de PPP rodoviárias, o grupo Mota-Engil – tenha rumado a Évora. Também lá esteve em romagem José Lello, administrador, durante os governos socialistas, da construtora DST, que muito ganhou também com PPP. Não deixa de ser curioso que cheguem apoiantes de todos os setores que Sócrates tutelou. O líder do futebol português, Pinto da Costa, foi mais um dos que manifestou o seu apoio público. Afinal, Sócrates foi o ministro do desporto que trouxe o Euro 2004 para Portugal. Um Euro que valeu muitos milhões de euros aos clubes de futebol e seus dirigentes. Mais um gesto de vassalagem. Para ser visitado e apoiado, a Sócrates bastará enviar a convocatória. Todos aqueles cujos podres Sócrates conhece, os que usufruíram de benefícios ilegítimos pelas suas decisões – todos aparecem ao primeiro estalar de dedos. Todos temem Sócrates, pois sabem que se ele resolver falar, desmorona o seu mundo de promiscuidades entre política e negócios. Com estas convocatórias e manifestações de apoio, o ex-primeiro-ministro pretende manipular a opinião pública, vitimizando-se; bem como condicionar a Justiça, através da sua manifestação de força e influência. Mas o que não faz e deveria fazer é aproveitar o acesso direto aos media para explicar quais os bens de fortuna que lhe permitiram, sem rendimentos compatíveis, manter, durante anos e depois de sair do poder, uma vida de ostentação.

Paulo Morais in "Correio da Manhã"
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