sábado, 20 de junho de 2015

ONDE O PÃO SE ACABA E O MAR COMEÇA

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Tsipras, estadista desgravatado que esgravata o cofre do tesouro helénico em busca dos derradeiros euros, qual galináceo esgaravatador na areia sariana, além de desgravatado, esgravatador e esgaravatador, revela-se tribuno inspirado, perfilado como sério concorrente ao pódio da eloquência, ocupado justamente até agora—e ainda—por Sampaio da Nóvoa.
Tsipras não tem só ideias. Tsipras tem ideias que são pérolas a brotar do encéfalo como jóias incandescentes de fogo de artifício. Ontem, ou noutra altura qualquer, incluindo amanhã, a respeito do aperto Grécia-versus-Instituições, também chamadas troika nos países sem poetas, Tsipras aliviou-se com a seguinte tirada: "Somos uma nação de velejadores, sabemos como lidar com as tempestades, não temos medo de navegar em oceanos distantes". Tal e qual. Os gregos são povo duma nação de velejadores, sabem lidar com as tempestades, não têm medo de navegar em oceanos distantes, mas não têm dinheiro para comer. O pormenor é menor, mas não deixa de ser uma porra.
Estudo oportuno do Massachusetts Institute of Technology mostra que só com muita dificuldade as pedras das acrópoles são digeridas pelo tracto gastrintestinal humano, além do que isso representa em termos de delapidação do património arqueológico da Helénica República—quase antropofagia! Um povo que devora a sua História, devora-se a si mesmo, diria Nóvoa e muito bem.
Portanto, e voltando à terra, Tsipras tem de se virar para outro lado e já começou a fazê-lo. Não tarda, Putin vai dar-lhe a mão, mas não será de imediato. Putin pediu-lhe um empréstimo de emergência para pagar alguns precisos urgentes da Federação, empréstimo que logo pagará, pondo-o depois em contacto com o Eng. Carlos Santos Silva, alma generosa que não gosta de ver ninguém passar necessidades por falta de liquidez e capaz de desenrascar a Grécia.
Tsipras, mais o seu fiel e charmoso coequiper Fakis, não se atrapalham. Em caso de necessidade, há na Grécia muito mar para empenhar, mesmo vender. Águas costeiras não movem moinhos e Tsipras e seus compatriotas são gente de vista larga, mais virados para oceanos distantes. Do Mediterrâneo à Antárctica há muito mar para lavrar e grego não vira costas ao trabalho. Jamé!
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