quarta-feira, 28 de junho de 2017

SACUDIR A ÁGUA DO CAPOTE

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Quando leio e vejo a descrição, os comentários, as explicações, as justificações, as desculpas e toda a cangalhada escrita, falada, filmada e gravada sobre o incêndio de Pedrógão Grande, lembro-me do título dum livro do físico e divulgador científico americano chamado Andrew Thomas, título que em inglês é Hidden in Plain Sight, traduzível por "Escondido na Completa Visibilidade" ou, melhor ainda, "Escondido na Total Evidência"; ou seja, coisa difícil de perceber por ser excessivamente fácil percebê-la.
Já Einstein tinha dito que qualquer tonto inteligente pode fazer as coisas maiores e mais complicadas do que elas são na realidade; para seguir o caminho inverso, é que é preciso ter génio. E Albert Szent-Györgyi, Prémio Nobel da Química, achava que a descoberta científica consiste em ver o que todos vêem, mas pensar o que ninguém pensou.
Pedrógão Grande, salvo o devido respeito pelas vítimas da incompetência e de outras coisas mais que não vou agora esmiuçar, é a situação inversa do Hidden in Plain Sight — é a tentativa de esconder o que é evidente. Já todos percebemos que ocorreu ali uma tragédia, fruto de confusão totalmente desorganizada, sem rei nem roque, com graves falhas técnicas — funcionais e materiais — no combate ao fogo e no socorro às vítimas. Em bom português, chama-se ao comportamento do Primeiro-Ministro, e outros membros do Governo, fazer fumo para sacudir a água do capote. E tenho a certeza que nem uma pinga dela lá vai ficar — para a semana os capotes estarão todos enxutos. Talvez a Ministra leve uma corrida em pelo e é um pau.

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