sábado, 13 de janeiro de 2018

SÓ ARES

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[...] “O nosso dever é todos os dias homenagearmos Mário Soares”, decretou o dr. Costa em cerimónia oficial de homenagem a Mário Soares. Da maneira que isto está, ignoro se a coisa já subiu a lei e se as coimas por desobediência são pesadas. À cautela, estabeleci um programa. Segundas e terças-feiras, recordo o Soares filósofo, relendo as crónicas dele no “Diário de Notícias” e sublinhando com um lápis afiado as referências ao “bom Papa Francisco” e à responsabilidade do “neoliberalismo” nas “alterações climáticas”. Quartas-feiras, celebro o Soares democrata, através das entrevistas em que elogia Chávez e Lula e insulta dois terços dos regimes ocidentais. As quintas-feiras são dedicadas ao Soares republicano, pelo que desfraldo a bandeira e canto “A Portuguesa” trinta vezes depois do almoço e trinta depois da sesta. Às sextas, comemoro o Soares feminista, evocando com pesar a importantíssima eleição que perdeu para uma “dona de casa”. Aos sábados, festejo o Soares bonacheirão e ponho em “loop” no youTube o vídeo do “Ó sr. guarda, desapareça!”. Dedico os domingos ao prestígio internacional de Soares e, não sei porquê, penso muito em Macau e queimo uma efígie de Rui Mateus. Chega assim? Caso não chegue, espremo a agenda e arranjo espaço para aplaudir o Soares patriota, que a título pedagógico entregou o país ao FMI em duas ocasiões, o Soares solidário, cujos amigos não morriam na cadeia, e o Soares digno, que caucionou os merecidos insultos à “amante” de Sá Carneiro. [...]
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Alberto Gonçalves in "Observador"
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